Wednesday, March 29, 2006

Ciência

A Fundação Champalimaud irá atribuir um prémio recorde de 1 Milhão de Euros, de carácter anual, já a partir do ano 2007. A "fortuna" irá incidir sobre o melhor estudo no âmbito da investigação das doenças da visão.

Num evidente clima de estagnação económica, e perante a inércia do Estado em agir no mesmo sentido, são de louvar as estratégias de apoio à investigação, neste caso na área da biomedicina, uma área ainda bastante carente de investimento. Com a contínua relutância dos Governos sucessivos em não alocar fundos de risco nestas áreas, e num suposto e alegado arranque por parte de josé Sócrates (pelo menos, é o que indica o Programa de Governo), são este tipo de atitudes que nos fazem evoluir, não só como um impulso ao apelo a um maior investimento em Investigação, mas também ao fazê-lo em prol da Comunidade Científica Internacional.

Leonor Beleza e a sua "equipa" estão de parabéns pela forma como têm gerido a Fundação Champalimaud, que tem ao dispôr cerca de 500 Milhões de Euros, destinados exclusivamente à Investigação, conforme último desejo do multimilionário que os deixou.

Espero que, de facto, isto se assuma como um passo em frente rumo a um papel mais preponderante de Portugal na investigação médica, com vista a partiparmos mais activamente na busca de curas para as doenças e incapacidades que tanto afligem milhões de pessoas em todo o Mundo. E porque 1 Milhão de Euros de "prémio" é o valor mais alto desde sempre atribuído na área da biomedicina, o valor destas iniciativas ainda se torna maior.

Wednesday, March 22, 2006

Uma nova bandeira!

Depois da despenalização do consumo de drogas leves há uns anos. Depois de já todos sabermos que haverá o referendo do aborto e provavelmente será legalizado. Depois de sabermos que inevitalmente, mais tarde ou mais cedo, o casamento entre homossexuais será aprovado... Depois de tudo isto, o Bloco de Esquerda (BE) tem graves razões para se procupar com o seu futuro. As suas bandeiras começam a esgotar-se, a banalizar-se na opinião pública, o que compromete a imagem cool, à frente, pretensamente cosmopolita do BE.
Os dirigentes do dito partido já se consciencializaram deste problema, e são visíveis movimentações no seu interior. Veja-se, por exemplo, a saída de Vale de Almeida e a perspicaz análise de Paulo Gorjão.
Por outro lado, urge a criação de novas bandeiras. Eis que aparece então a ideia do direito ao divórcio a pedido de apenas um dos cônjuges. Pode ser que pegue. Se não pegar, não perdem nada.
É disto que o BE vive. O BE não afirma a sua ideologia de esquerda radical. Isto assustaria o seu público-alvo, os meninos urbanos, também pretensamente cosmopolitas, revoltados com o mundo (ou fazendo-se de revoltados), mas curiosamente sem negar aquilo que o actual modelo de sociedade lhes dá. Uma sociedade comunista, de acordo com a corrente trotskista, não é o que eles querem, se eventualmente souberem o que querem e o que é uma sociedade comunista.
Bandeiras destas são o ideal. São light, isto é, não requerem uma visão coerente da realidade. São modernas, são diferentes, são alternativas. Resumindo, desafiam as institutições. É o que está na moda.
A minha esperança é que, como todas as modas, também esta entre em declínio, um dia destes.

Monday, March 20, 2006

Agora o PSD

Um congresso do PSD é uma óptima ocasião para ver o que se passa no partido, eu tentei fazê-lo e vou dizer aqui o que concluí.
Muito resumidamente, o congresso consistiu na discussão acerca da adopção das directas. Várias propostas foram apresentadas. As que interessam são a de Marques Mendes e a de Luís Filipe Menezes. A principal diferença entre elas era que a de Marques Mendes previa a eleição do líder e da Comissão Política Nacional (CPN) por directas. Luís Filipe Menezes propunha que apenas o líder fosse eleito por directas, mantendo-se a eleição da CPN em congresso. Além disso, Marques Mendes apresentou muitas outras propostas, que não foram objecto de especial polémica. No início do congresso, os mentores das propostas reuniram-se e chegaram a um acordo para uma única proposta. Marques Mendes recuou na eleição directa da CPN, e Filipe Menezes aceitou todas as outras propostas de Marques Mendes. Isto foi mais ou menos o que se passou.
Em primeiro lugar, nota-se que Marques Mendes não assegurava apoios suficientes para aprovar a proposta dele e que, em contrapartida, Filipe Menezes detém uma importante influência no partido, que aliás já se tinha revelado no congresso anterior. Alguns dirão que isto revela fragilidade de Marques Mendes e força de Menezes. Eu não vejo as coisas assim. Passo a explicar porquê.
Se Menezes fosse mais forte do que Marques Mendes, não aceitaria negociar e ia em frente com a sua proposta. Ela não seria aprovada, mas podia inviabilizar a aprovação da de Marques Mendes (para alteração dos estatutos são necessários 3/5 dos votos). Se ele conseguisse, com alguma certeza, evitar a aprovação da proposta de Marques Mendes, isso sim, fragilizaria o líder e ficaria com grandes hipóteses de vitória nas directas. Mas ele não afrontou o líder, o que me leva a crer que ele não tinha a certeza de conseguir esse efeito. Preferiu, muito inteligentemente, negociar, obrigando o líder a recuar numa das suas propostas mais polémicas. Mantém, assim, a sensação, que não sabemos se certa ou errada, de que tem uma influência decisiva no partido, não se arriscando a perdê-la.
Marques Mendes, por seu lado, também jogou pelo seguro. Ele sabia que uma eventual derrota da sua proposta seria muito pior que um recuo. Recuou, numa coisa que a opinião pública não percebe bem se é importante ou não, e criou o ambiente de um congresso traquilo, consensual, que não tinha conseguido no congresso da sua eleição. No final passaram todas, e só, as propostas que ele apoiava. Táctica também inteligente, portanto.
Agora coloca-se outra questão: irá Marques Mendes ter um adversário nas directas que ele já prometeu para daqui a uns meses? E quem?
Começando pela segunda pergunta, penso que só poderá ser Luís Filipe Menezes. Só ele se colocou em posição para poder candidatar-se. Além disso, nenhum outro que pudesse ser candidato está interessado em ser oposição a uma maioria absoluta durante 3 anos. Luís Filipe Menezes avançaria agora porque sabe que, nas eleições seguintes, em 2008, haverá mais e melhores candidatos. Agora seria a hipótese de ganhar e construir o seu lugar durante os próximos 2 anos.
Mas irá mesmo avançar? Eu pensava que sim até este congresso. Agora estou mais inclinado para a hipótese de não o fazer. Como disse acima, ele não assumiu uma posição de afrontamento. Pelo contrário, procurou parecer cooperativo. Pode ser apenas uma posição de precaução, para não se adiantar sem saber as reacções ao congresso e sem ter uma "sondagem" dos votos que poderá ter. Mas acho que ele já sabe que as hipóteses são poucas e, para não se "queimar" já, vai desde logo começando a construir uma imagem de credibilidade no partido, de alternativa válida, para, em 2008, estar em condições de concorrer contra Marques Mendes e outros nomes possíveis como António Borges, Marcelo Rebelo de Sousa ou Manuela Ferreira Leite (acho pouco prováveis estes dois últimos, mas a verdade é que têm sido ventilados por aí).
A confirmar-se que Menezes não avança, a eleição de Marques Mendes está praticamente garantida, o que pode parecer bom. Mas não é, nem para ele, nem para o PSD. Marques Mendes não conseguirá consolidar e afirmar a sua liderança imediatamente, o que o obrigará a enfrentar muitas adversidades nos tempos seguintes. Ora, se o líder não se puder afirmar devidamente num partido que está na oposição a uma maioria absoluta, também o PSD perde com isso.
Para terminar, a minha vontade: que Menezes avance e Mendes ganhe.

Thursday, March 16, 2006

Assim vai o CDS/PP

Ribeiro e Castro cometeu um erro, provavelmente irreflectido, quando apelidou o grupo parlamentar do seu partido de "banda". Contudo, o facto de poder ter sido irreflectido, não impede que possamos tirar do fenómeno algumas ilacções.
A primeira que noto é a cada vez mais visível crispação entre a direcção do partido e o seu grupo parlamentar, o que não deveria acontecer com tanta força num partido que é tido como o mais próximo do conceito de partido de quadros em Portugal.
A segunda é que há claramente duas facções no CDS/PP, que aliás o nome do partido muito bem reflecte. Uma é a do Centro Democrático Social (CDS), descendente de Freitas do Amaral e que agora ocupa a direcção do partido. Outra é a do Partido Popular (PP), descendente de Paulo Portas, detentora dos lugares do grupo parlamentar. A facção de Manuel Monteiro constituiu-se num novo partido (PND), pelo que já não entra no jogo. Os outros dois líderes - Lucas Pires e Adriano Moreira - não deixaram herdeiros significativos.
A terceira, decorrente da segunda, é que a facção do CDS é hoje uma coligação negativa - grupo de pessoas que só se uniram para lutar contra a outra facção, mas que, para além desse objectivo, não revelam nenhum outro fim comum. Revelou-se maior no congresso que elegeu Ribeiro e Castro, mas revelou-se pouco unida e pouco activa na defesa dele nos momentos necessários. Que eu tenha reparado, ninguém o veio apoiar contra os ataques do grupo parlamentar. O PP, pelo contrário, é uma facção unida, agressiva e determinada num objectivo. Tem um projecto para o partido, o que não é necessariamente bom, se o projecto for mau (como penso que é)
Face a isto, o meu prognóstico é que, mais tarde ou mais cedo, o PP vai voltar a assumir a direcção do CDS/PP. Ribeiro e Castro será obrigado a promover novas eleições no partido e muito dificilmente surpreenderá de novo.
Quanto à minha opinião, preferiria Ribeiro e Castro e seu estilo. A longo prazo, revelar-se-ia a escolha mais acertada do partido; tal como Paulo Portas, a longo prazo, se revelou a escolha errada. Apesar de não ser militante nem simpatizante do CDS/PP, faço esta análise porque o que acontecer neste campo será mais importante do que possa parecer para a política portuguesa.

Wednesday, March 08, 2006

Governo - a minha análise até ao momento


O Governo socialista liderado pelo Engenheiro José Sócrates iniciou funções há cerca de pouco mais de um ano. Desde então, o primeiro-ministro, contrariando os padrões históricos que assolam a política governativa portuguesa, tem feito mais e falado menos. Não é uma questão de falar pouco: é mais uma questão de racionalidade, oportunidade e premeditação quer no que diz em público, quer no que executa no âmbito do seu cargo.

Em um claro clima de estagnação económica que assombra o país há cerca de 2/3 anos (e alguns mais de crescimento económico enganador), José Sócrates e a sua equipa de ministros (e respectivos colaboradores) têm feito muito mais pelo país do que alguns governantes com mais tempo de exercício. Muito embora o ano transacto tenha acabado com um défice das contas públicas na ordem dos 6%, está bem clara a intenção de o manter bem abaixo desses limites (e se possível até extingui-lo antes do fim do mandato legislativo), recorrendo a projectos estratégicos, que coincidem com as linhas orientadoras do seu programa de Governo.

José Sócrates venera a Finlândia e adopta-a como país referência, sublinhando que deverá servir de modelo ao nosso desenvolvimento. Ora é precisamente essa a estratégia do Executivo, que tem feito jus ao modelo paradigmático escandinavo.

É certo que os resultados ainda não se vêem, e também é verdade que ainda irão demorar um pouco mais; mas é de isto que o País precisa no Governo: alguém capaz de agarrar nas rédeas e assumir o controlo, apostando em medidas de longo-prazo, em detrimento das populistas mas pouco eficazes acções de curto-prazo (vulgo "desenrasca", na língua portuguesa).

Devo dizer que fiquei deliciado com a obtenção de investimento que o Governo conseguiu nos últimos tempos: segundo o Diário Económico, Portugal irá beneficiar de um montante igual a 7,2 mil milhões de Euros, só em captação de investimento estrangeiro, e só mencionando 7 projectos altamente estratégicos, no sector da Energia, Turismo, Automóveis, Tecnologia e Indústria, entre outros. Resta saber se tais projectos seriam levados adiante se Portugal não estivesse tão mal como está neste momento...

Esperemos que os investimentos previstos na Ota e no TGV não sejam sufocantes e não prejudiquem a já asfixiada economia portuguesa...

Friday, March 03, 2006

O Nuclear

Eu já queria falar há algum tempo sobre este tema, mas estava com a internet avariada. Vou fazer este post para ver se contribuo para que as pessoas olhem para a questão da energia nuclear com alguma racionalidade. Não pretendo dissertar acerca de todas as vantagens desta energia - para isso temos o blog Central Nuclear - mas apenas criticar uma visão que me desconcerta em relação a este tema.
A primeira questão é sem dúvida a segurança. Na minha opinião, nas últimas décadas, os ambientalistas conseguiram criar na opinião pública um medo obsessivo em relação à energia nuclear. Hoje, grande parte das pessoas assusta-se só de ouvir falar em algum conceito que contenha "nuclear" ou "radioactividade". Não percebem bem porquê, mas algo lhes diz que não são de fiar. Ora, os políticos e outros agentes a quem não convenha assustar o público, consequentemente, também tendem a ficar assustados. Criou-se assim, um verdadeiro tabu. A ideia da insegurança inerente à energia nuclear estabeleceu-se de tal forma que até há bem pouco tempo (antes de o preço do petróleo disparar) se achava que a energia nuclear não teria seguimento. Felizmente, recentemente, têm aparecido pessoas com coragem para contra-argumentar isto. Fazendo uma análise racional e despida de preconceitos, vemos que não tem havido acidentes graves ultimamente e que os que houve, especialmente Chernobyl, se deveram a má manutenção das centrais. Hoje temos à disposição tecnologias mais recentes que nos garantem melhor fiabilidade, mas, por outro lado, também não estamos num sector pioneiro; já há know-how e não andamos aqui como que a fazer experiências cientificas. Acrescente-se ainda a sempre necessária visão pragmática: a haver insegurança, já a sofremos em virtude das centrais espanholas próximas da fronteira.
A segunda questão, ligada à primeira, é a ambiental. Como são os ambientalistas que se insurgem contra o nuclear, tem-se a ideia de que a energia nuclear é altamente nociva para o ambiente. Não vou obviamente dizer que não traz custos ambientais, mas o que interessa aqui é compará-los com os que advêm das alternativas para a produção de energia: essencialmente petróleo, carvão e gás natural (as renováveis são de lembrar, mas actualmente a sua falta de rentabilidade não permite que sejam uma escolha plausível para produzir em massa). É bem sabido que as centrais energéticas de combustíveis fósseis (principalmente as de carvão, que dominam em Portugal) são incomparavelmente mais poluentes que as centrais nucleares, designadamente no que diz respeito aos gases que provocam o efeito de estufa. Este facto é de maior importância agora que tanto se fala do Protocolo de Quioto e das sanções que podemos sofrer por não estarmos a cumprir os objectivos.
A terceira questão é a económica. Existe em Portugal ainda a ideia de que uma central nuclear é um projecto megalómano, inadequado às dimensões e necessidades do nosso país e, portanto, não digno de ser levado a sério. Aqui vou deixar a minha veia de liberalismo falar por si. Diz ela que se há um conjunto de investidores credíveis interessados em construir uma central nuclear em Portugal, prescindindo de qualquer apoio estatal, presume-se que eles fizeram estudos também credíveis e chegaram à conclusão que Portugal tem capacidade para absorver a energia que irão produzir e, se não tiver, sempre se pode exportar para Espanha. Diz-se também por aí, com base em argumentos algo rocambolescos que agora não vou enumerar, que, na verdade, o preço da energia produzida numa central nuclear será mais alto que a energia produzida por outros meios. Eu respondo, mais uma vez com a meu lado liberal: e depois? As leis do mercado são claras: se o preço for superior ao que os compradores estão dispostos a pagar, o negócio não tem pernas para andar e ficamos na mesma. Se o projecto não for subsidiado pelo Estado, os portugueses nada perdem (até ganhariam com o efeito multiplicador do investimento). Mas como há o tal grupo de investidores credíveis e com provas dadas no sector energético, custa-me a crer que o negócio não possa ter sucesso.
Por último, temos a tão desejada e necessária diversificação das fontes de energia. Não vou deixar falar o liberalismo, porque se trata de uma questão de planeamento da economia pelo Estado. Este é um tempo em que todos temos consciência de que a nossa dependência em relação aos combustíveis fósseis é insustentável a longo prazo, por vários factores, desde a instabilidade no Médio Oriente até ao previsível esgotamento destes recursos, passando pelo desequilíbrio da nossa balança comercial. Num tempo destes, não aceito que se desperdice uma oportunidade destas apenas por causa de um medo irracional, de um tabu. Os investidores não se podem dar ao luxo de esperar pacientemente por uma resposta do Estado, que o próprio governo diz que não vai dar nesta legislatura.
Penso que a nossa tarefa é mostrar aos políticos que não temos medo da energia nuclear, para que eles não se inibam de tomar as decisões certas.
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