Agora o PSD
Um congresso do PSD é uma óptima ocasião para ver o que se passa no partido, eu tentei fazê-lo e vou dizer aqui o que concluí.
Muito resumidamente, o congresso consistiu na discussão acerca da adopção das directas. Várias propostas foram apresentadas. As que interessam são a de Marques Mendes e a de Luís Filipe Menezes. A principal diferença entre elas era que a de Marques Mendes previa a eleição do líder e da Comissão Política Nacional (CPN) por directas. Luís Filipe Menezes propunha que apenas o líder fosse eleito por directas, mantendo-se a eleição da CPN em congresso. Além disso, Marques Mendes apresentou muitas outras propostas, que não foram objecto de especial polémica. No início do congresso, os mentores das propostas reuniram-se e chegaram a um acordo para uma única proposta. Marques Mendes recuou na eleição directa da CPN, e Filipe Menezes aceitou todas as outras propostas de Marques Mendes. Isto foi mais ou menos o que se passou.
Em primeiro lugar, nota-se que Marques Mendes não assegurava apoios suficientes para aprovar a proposta dele e que, em contrapartida, Filipe Menezes detém uma importante influência no partido, que aliás já se tinha revelado no congresso anterior. Alguns dirão que isto revela fragilidade de Marques Mendes e força de Menezes. Eu não vejo as coisas assim. Passo a explicar porquê.
Se Menezes fosse mais forte do que Marques Mendes, não aceitaria negociar e ia em frente com a sua proposta. Ela não seria aprovada, mas podia inviabilizar a aprovação da de Marques Mendes (para alteração dos estatutos são necessários 3/5 dos votos). Se ele conseguisse, com alguma certeza, evitar a aprovação da proposta de Marques Mendes, isso sim, fragilizaria o líder e ficaria com grandes hipóteses de vitória nas directas. Mas ele não afrontou o líder, o que me leva a crer que ele não tinha a certeza de conseguir esse efeito. Preferiu, muito inteligentemente, negociar, obrigando o líder a recuar numa das suas propostas mais polémicas. Mantém, assim, a sensação, que não sabemos se certa ou errada, de que tem uma influência decisiva no partido, não se arriscando a perdê-la.
Marques Mendes, por seu lado, também jogou pelo seguro. Ele sabia que uma eventual derrota da sua proposta seria muito pior que um recuo. Recuou, numa coisa que a opinião pública não percebe bem se é importante ou não, e criou o ambiente de um congresso traquilo, consensual, que não tinha conseguido no congresso da sua eleição. No final passaram todas, e só, as propostas que ele apoiava. Táctica também inteligente, portanto.
Agora coloca-se outra questão: irá Marques Mendes ter um adversário nas directas que ele já prometeu para daqui a uns meses? E quem?
Começando pela segunda pergunta, penso que só poderá ser Luís Filipe Menezes. Só ele se colocou em posição para poder candidatar-se. Além disso, nenhum outro que pudesse ser candidato está interessado em ser oposição a uma maioria absoluta durante 3 anos. Luís Filipe Menezes avançaria agora porque sabe que, nas eleições seguintes, em 2008, haverá mais e melhores candidatos. Agora seria a hipótese de ganhar e construir o seu lugar durante os próximos 2 anos.
Mas irá mesmo avançar? Eu pensava que sim até este congresso. Agora estou mais inclinado para a hipótese de não o fazer. Como disse acima, ele não assumiu uma posição de afrontamento. Pelo contrário, procurou parecer cooperativo. Pode ser apenas uma posição de precaução, para não se adiantar sem saber as reacções ao congresso e sem ter uma "sondagem" dos votos que poderá ter. Mas acho que ele já sabe que as hipóteses são poucas e, para não se "queimar" já, vai desde logo começando a construir uma imagem de credibilidade no partido, de alternativa válida, para, em 2008, estar em condições de concorrer contra Marques Mendes e outros nomes possíveis como António Borges, Marcelo Rebelo de Sousa ou Manuela Ferreira Leite (acho pouco prováveis estes dois últimos, mas a verdade é que têm sido ventilados por aí).
A confirmar-se que Menezes não avança, a eleição de Marques Mendes está praticamente garantida, o que pode parecer bom. Mas não é, nem para ele, nem para o PSD. Marques Mendes não conseguirá consolidar e afirmar a sua liderança imediatamente, o que o obrigará a enfrentar muitas adversidades nos tempos seguintes. Ora, se o líder não se puder afirmar devidamente num partido que está na oposição a uma maioria absoluta, também o PSD perde com isso.
Para terminar, a minha vontade: que Menezes avance e Mendes ganhe.
Muito resumidamente, o congresso consistiu na discussão acerca da adopção das directas. Várias propostas foram apresentadas. As que interessam são a de Marques Mendes e a de Luís Filipe Menezes. A principal diferença entre elas era que a de Marques Mendes previa a eleição do líder e da Comissão Política Nacional (CPN) por directas. Luís Filipe Menezes propunha que apenas o líder fosse eleito por directas, mantendo-se a eleição da CPN em congresso. Além disso, Marques Mendes apresentou muitas outras propostas, que não foram objecto de especial polémica. No início do congresso, os mentores das propostas reuniram-se e chegaram a um acordo para uma única proposta. Marques Mendes recuou na eleição directa da CPN, e Filipe Menezes aceitou todas as outras propostas de Marques Mendes. Isto foi mais ou menos o que se passou.
Em primeiro lugar, nota-se que Marques Mendes não assegurava apoios suficientes para aprovar a proposta dele e que, em contrapartida, Filipe Menezes detém uma importante influência no partido, que aliás já se tinha revelado no congresso anterior. Alguns dirão que isto revela fragilidade de Marques Mendes e força de Menezes. Eu não vejo as coisas assim. Passo a explicar porquê.
Se Menezes fosse mais forte do que Marques Mendes, não aceitaria negociar e ia em frente com a sua proposta. Ela não seria aprovada, mas podia inviabilizar a aprovação da de Marques Mendes (para alteração dos estatutos são necessários 3/5 dos votos). Se ele conseguisse, com alguma certeza, evitar a aprovação da proposta de Marques Mendes, isso sim, fragilizaria o líder e ficaria com grandes hipóteses de vitória nas directas. Mas ele não afrontou o líder, o que me leva a crer que ele não tinha a certeza de conseguir esse efeito. Preferiu, muito inteligentemente, negociar, obrigando o líder a recuar numa das suas propostas mais polémicas. Mantém, assim, a sensação, que não sabemos se certa ou errada, de que tem uma influência decisiva no partido, não se arriscando a perdê-la.
Marques Mendes, por seu lado, também jogou pelo seguro. Ele sabia que uma eventual derrota da sua proposta seria muito pior que um recuo. Recuou, numa coisa que a opinião pública não percebe bem se é importante ou não, e criou o ambiente de um congresso traquilo, consensual, que não tinha conseguido no congresso da sua eleição. No final passaram todas, e só, as propostas que ele apoiava. Táctica também inteligente, portanto.
Agora coloca-se outra questão: irá Marques Mendes ter um adversário nas directas que ele já prometeu para daqui a uns meses? E quem?
Começando pela segunda pergunta, penso que só poderá ser Luís Filipe Menezes. Só ele se colocou em posição para poder candidatar-se. Além disso, nenhum outro que pudesse ser candidato está interessado em ser oposição a uma maioria absoluta durante 3 anos. Luís Filipe Menezes avançaria agora porque sabe que, nas eleições seguintes, em 2008, haverá mais e melhores candidatos. Agora seria a hipótese de ganhar e construir o seu lugar durante os próximos 2 anos.
Mas irá mesmo avançar? Eu pensava que sim até este congresso. Agora estou mais inclinado para a hipótese de não o fazer. Como disse acima, ele não assumiu uma posição de afrontamento. Pelo contrário, procurou parecer cooperativo. Pode ser apenas uma posição de precaução, para não se adiantar sem saber as reacções ao congresso e sem ter uma "sondagem" dos votos que poderá ter. Mas acho que ele já sabe que as hipóteses são poucas e, para não se "queimar" já, vai desde logo começando a construir uma imagem de credibilidade no partido, de alternativa válida, para, em 2008, estar em condições de concorrer contra Marques Mendes e outros nomes possíveis como António Borges, Marcelo Rebelo de Sousa ou Manuela Ferreira Leite (acho pouco prováveis estes dois últimos, mas a verdade é que têm sido ventilados por aí).
A confirmar-se que Menezes não avança, a eleição de Marques Mendes está praticamente garantida, o que pode parecer bom. Mas não é, nem para ele, nem para o PSD. Marques Mendes não conseguirá consolidar e afirmar a sua liderança imediatamente, o que o obrigará a enfrentar muitas adversidades nos tempos seguintes. Ora, se o líder não se puder afirmar devidamente num partido que está na oposição a uma maioria absoluta, também o PSD perde com isso.
Para terminar, a minha vontade: que Menezes avance e Mendes ganhe.
5 Comments:
Mais uma vez, um post enorme. Ainda pensei em dividi-lo em duas partes, mas prefiro que o leitor mantenha o raciocínio que eu segui.
Muito boa análise, tirando na parte final. Defendeste bem a tua opinião, mas eu penso que Menezes irá avançar nas próximas eleições do partido. Isto porque, tal como disseste, neste congresso ele jogou pelo seguro, para sondar os seus apoios e garantir uma imagem de credibilidade dentro do PSD. No entanto, neste momento Marques Mendes é um líder fraco, não tendo consolidade a sua imagem quer no partido, quer na oposição (e principalmente nesta). Por esta razão, penso que Menezes sente que esta é a sua grande oportunidade de chegar a líder do partido e por isso deve candidatar-se. Quanto a uma vitória, penso que será de Menezes, no entanto, se isso acontecer, será por uma escassa margem. Portanto, prevejo uma disputa equilibrada.
Devo dizer que re-pensei este assunto e mantenho quase tudo o que escrevi, tirando a última parte. De facto, Menezes não tem (ou não parece ter) força suficiente para derrotar Mendes. No entanto, as próximas eleições devem ser de tudo ou nada: ou arrisca e tenta ganhar, com alguma sorte, ou não me parece que o consiga fazer nos próximos anos.
Quando escrevi o post, disse que estava inclinado para a hipótese de o Filipe Menezes nao se candidatar. Agora tenho uma certeza quase absoluta.
Lembre-se que a distrital do PSD de Braga foi a impulsionadora de Menezes e o seu presidente, Virgílio Costa, esteve ao lado de Menezes na declaraçao que este fez na noite das eleiçoes legislativas do ano passado; declaraçao essa que marcou o momento da manifestaçao da divergência entre Menezes e Mendes. Há cerca de um mes, a candidatura de Mendes foi lançada na distrital de Braga, acompanhada de um discurso (demasiado) elogioso por parte do presidente da dita distrital, que é o mesmo. As movimentaçoes sao óbvias, portanto.
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