Monday, October 09, 2006

Liberdade vs ... Liberdade?

Tenho acompanhado com alguma apreensão as notícias relativamente às duas polémicas perseguições policiais que, nos últimos 5 dias, acabaram em "tragédia", bem como o sequestro na dependência bancária do BES (salvo erro) de Setúbal. Parece que, mais uma vez, carecem "notícias-impacto" nos media, sendo notório que, à excepção da eleição do novo Procurador Geral da República, não há matéria profunda sobre a qual seja justificável debruçar-se. No meio de periódicos conflitos partidários e de fracos desenvolvimentos no âmbito do ensaio nuclear da Coreia do Norte (até hoje!), aproveitam-se notícias como esta como mediadores de manipulação ideológica.

No caso do assalto e sequestro do banco, tal ficou-me na memória como uma alusão ao filme "Dog Day Afternoon" (Um Dia de Cão), em que se passa praticamente o mesmo: dois assaltantes (difere apenas aqui) sequestram pessoas num banco, após uma tentativa frustrada de assalto e consequente fuga. Baseado numa história verídica, foi um assalto que durou 12 horas (coincidência...) e prolongou-se desde a tarde até de madrugada, tornando-se num autêntico circo dos media... E por isto se demonstra que, por cá, há necessidade em mostrarmos coisas destas pois há vontade em dizer que também somos um país desenvolvido (com os seus assaltos de 12 horas a bancos), e convém mostrar que sabemos lidar com tais factos. No fundo, após tantos anos sem qualquer notícia semelhante, quer-se evidenciar que chegou a altura de divulgar como deve ser uma história deste género, com todos os condimentos importantes e algumas pitadas de "últimas horas" e "directos-em-que-nada-de-novo-se-acrescenta".

No que diz respeito ao primeiro acontecimento, o das perseguições, desde sempre que houve, no nosso país, um pequeno preconceito em relação à acção das forças policiais, fossem elas quais fossem. É comum entre muitos que se devem colocar os direitos individuais dos cidadãos num patamar tão alto que impedem qualquer tentativa de leve supressão dos mesmos em prol de uma liberdade colectiva, qual direito inferior, e que de certa forma espelha o que está transcrito na Ordem Jurídica Portuguesa.

Verdade seja dita que não se quer uma força policial liberal, modelada de um modo pró-EUA, em que qualquer direito individual reconhecido é tanta vez transposto em nome da segurança colectiva, a qual muita das vezes nem sequer é trazida ao de cima. Mas, se por um lado, reconhecemos que a liberdade individual é inatíngivel e incontornável perante tamanha injustiça, por outro lado torna-se necessário, quiçã imperioso, analisar o outro pólo da questão demarcado pela segurança colectiva, por vezes tão sobejamente ignorada.

Contextualizando o ponto de vista, não é tanto a orientação ideológica em relação à força policial que mais importa, mas mais a racionalização do que ouvimos, vemos e ficamos a saber. Convém também pensar que os jovens que fugiam da polícia não eram "inocentes", tentavam escapar de um crime grave. Tal não servirá (nem nunca poderá) servir de desculpa, pretexto ou justificação para a acção dos agentes policiais, mas será uma atenuante a considerar. Porque se os jovens escapassem e atropelassem alguém, os agentes eram culpados de inércia e lamentavam-se as vítimas; como actuaram com vista a impedir que algo de foro ainda mais grave acontecesse, são ostracizados por acção. São polícias presos por terem cão e por não terem. Ironicamente, é esta a realidade. Em que ficamos?...

1 Comments:

Blogger Luís Araújo said...

O pior na cobertura mediática é que, ao contrário do que dizes, houve realmente temas quentes nesses dias. Nomeadamente o discurso do PR contra a corrupção, ao qual se acrescentam as reacções; a maior manifestação desde os tempos da revolução feita pelos professores; a nível internacional, a tensão crescente com a Coreia do Norte, etc. Mas não prendem as pessoas ao ecran...

October 09, 2006 11:01 PM  

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