Sunday, September 24, 2006

Manipulados




"Sem perícia militar, estes bárbaros são todavia temerosos nas pelejas, porque os capitães experimentados da Arábia os dirigem e movem como lhes apraz, e porque, sectários de uma religião nova, crédulos mártires do inferno, buscam os embusteiros e torpes deleites que, além da morte, lhes prometeu o profeta de Iátribe, arremessando-se com um valor que se creria de desesperados diante do ferro dos seus contrários e contentando-se de acabar, contanto que sobre os seus cadáveres se hasteie vitorioso o estandarte do Islame"

Lia ontem o cap. IX de Eurico, o presbítero, de Alexandre Herculano, e não pude deixar de reparar no paralelismo da situação descrita no excerto com a situação actual.
Este excerto explica a coragem dos muçulmanos aquando da invasão da Península Ibérica, no séc. VIII. Na altura, como agora, eles não eram especialistas na arte da guerra. E também agora eles seguem as ordens dos seus superiores sem medo da morte porque os "capitães experimentados" conduzem-nos invocando a sua religião.
Na minha opinião, é precisamente este aspecto da exaltação religiosa pelos superiores (religiosos, políticos, intelectuais, ou isto tudo ao mesmo tempo) que está na origem da radicalização do povo islâmico. A causa principal não é, como muitos - principalmente europeus de esquerda anti-americanos - vêm dizendo, a hegemonia do ocidente, materializada na intervenção no Afeganistão e na guerra do Iraque. Aliás, deve lembrar-se a estas pessoas que o 11 de Setembro foi antes disso...
Portanto, sem preconceitos, mas também sem tabus, deve-se tentar corrigir a situação no interior da cultura islâmica. Como Pacheco Pereira diz, não se tem ouvido um único intelectual islâmico condenar de forma veemente o terrorismo dos radicais sem um "mas". Isto revela que nem os islâmicos moderados estão fortemente empenhados em acabar com o terrorismo. Há que fazer pressão sobre estes, que, pensa-se, ainda fazem uso da razão, para influenciar a civilização islâmica em direcção à paz e à racionalidade.

Sunday, September 17, 2006

Darfur

No Sudão, existe uma região denominada Darfur, que nos últimos anos tem sido palco de tragédia e opressão. A região é habitada por povos sedentários que se dedicam às mais básicas actividades de subsistência, nomeadamente a agricultura e a pecuária. Durante vários anos, esta região foi alvo de indiferença e rejeição por parte do Governo do seu país, dados os conflitos entre estas populações e as facções Árabes que lutam pelos campos de cultivo e fontes de água. Só para dar uma ideia, o Governo do Sudão rejeitou ajudar as populações do Darfur que sofreram muito com secas consecutivas e que em grande escala os prejudicaram na sua subsistência.

No seguimento de uma rebelião dos indígenas do Darfur, o Governo Sudanês de influência marcadamente árabe, ordenou a criação de milícias árabes denominadas janjaweed, cuja actividade se resume à destruição dos campos de cultivo e ao massacre em massa dos indígenas do Darfur.

Existe na região uma força de manutenção de paz, a União Africana, cujo objectivo é restaurar o ambiente de coexistência pacífica entre as "culturas". Todavia, os seus meios de alcance são altamente inferiores e perfeitamente inúteis face ao poderio militar transpirado pelas milícias árabes. O Governo Sudanês mandou expulsar esta força de manutenção de paz até ao fim do presente mês, sendo que se vão retirar dia 20.

A partir desse dia, as mílicias terão margem de manobra ilimitada para fazer o que têm vindo a fazer até agora: violar e matar em público. Dada a soberania do Estado do Sudão e a sua relutância em permitir a entrada da ONU, esta mostra-se manifestamente impotente para com esta tragédia humana que, pensa-se, irá adquirir dimensões astronómicas já a partir de Outubro.

Isto não é um mail em cadeia. Nem sequer é um mail. É um post. Um post diferente do habitual até agora. E é também um apelo. Todos vimos o que aconteceu no Ruanda e não teremos prazer nenhum em esperar indiferentemente pelo natural desenvolvimento do fenómeno para, no final, atirarmos as culpas da inércia uns para os outros. Serão 30.000 mortos por dia, só de fome. Não é modesto.

http://www.savedarfur.org/content?splash=yes

http://www.darfurgenocide.org/

http://www.hrw.org/doc?t=africa&c=darfur

Friday, September 15, 2006

Finca-pé

«Blatter lamenta ainda a intervenção de entidades extra-desportivas no futebol português

É impressão minha, ou o Presidente da FIFA lamenta que outros sectores da sociedade portuguesa, nomeadamente o Governo e os Tribunais, estejam preocupados com a situação e façam o que é seu dever para resolver o assunto da forma correcta?
Apoio cada vez mais a luta do Gil Vicente. É pena que o presidente deste clube não esteja à altura da sua tarefa e, sempre que fale, aproveite esses momentos para dizer umas barbaridades e fazer demagogia. Contudo, parece ter entregue o caso a uma equipa competente e tenho esperanças que o mundo do futebol, um dia, volte ao seu lugar, isto é, que se sujeite às leis do Estado onde é praticado.

Saturday, September 09, 2006

O Lado Escondido do Acordo da Justiça

Não gosto muito de ouvir Sócrates a discursar, e verdade seja dita, este tem tendência a ser repetitivo e redundante. Marques Mendes foi, pelo contrário, mais conciso e directo, focando as principais consequências que derivam de um acordo desta natureza. Seja como for, ambos quiseram evidenciar as repercussões que este acontecimento irá ter na classe política dos dois maiores partidos nacionais, por natureza opostos e "rivais", sob o argumento hipócrita de que "quem sai a ganhar é Portugal".

O acordo conseguido, quer queiramos quer não, foi um marco na democracia portuguesa. Parece que finalmente a nossa classe política atingiu o patamar de coragem suficiente para manobrar um acordo cuja importância transcende todo o conjunto de provocações, mentiras e dúbias intenções presenciadas ao longo do ano, entre os representantes partidários.

Fica bem, e é bonito dizer que Portugal sai a ganhar. Mas fica feio ver que se ficam pela promessa, pela palavra e pela intenção. Se Portugal sai tanto a ganhar com os acordos, por que são estes tão raros, ao ponto de termos presenciado ontem o primeiro na nossa história democrática?

Por favor, não me venham com questões de credibilidade e imagem política, interessam-me tanto como a morfologia de uma laranja. A vontade em parecer algo que não são, em querer fazer-nos crer que o carácter raro destes acontecimentos é sinal de rejubilância pomposa, passo o pleonasmo, parece querer também impingir que nos devemos sentir manifestamente congratulados com esta manifestação de cooperação, quando estes actos deveriam ser hábito constante e sucessivo da vida democrática do país, se é que aquilo que lhes interessa mesmo é "colocar os interesses do país à frente dos partidários", como nos querem fazer crer.

Friday, September 08, 2006

Acordo na Justiça

Os dois maiores partidos portugueses comprometeram-se num acordo sobre a Justiça e já se começa por aí a analisar qual deles ganhou com isto ou então a criticar a formação de um bloco central que ameaça uma oposição saudável ao Governo.
Na minha opinião, com este acordo só perde o CDS/PP, porque é o único partido que se posiciona como partido de poder e que foi esquecido num acordo que pretende sobrepor-se às trocas de governos. Os outros partidos, PCP e BE, até ganham, porque podem ir por uma estratégia de vitimização. O PSD perde no sentido em que já não pode criticar o Governo acerca da Justiça, mas ganha em credibilidade.
Por outro lado, não é um acordo de âmbito sectorial que denuncia a germinação de um bloco central. Aliás, ainda poderá haver lugar para um acordo no sector da Segurança Social. Penso que este acordo é desejável, dado que o PSD, a meu ver, tem uma proposta bastante interessante e a reforma deste sector é urgente. Mais acordos além deste só serviriam para apagar o PSD e, aí sim, a oposição deixa de ser saudável.

Tuesday, September 05, 2006

Quanto mais barulho, melhor

O título refere-se ao caos que nos últimos tempos se instalou no futebol português. Eu devo confessar que o futebol não me atrai especialmente e por vezes me irrita o exagerado tempo de antena que é concedido a este desporto. Mas não é por isso que quero mais caos.
Eu quero que o Gil Vicente vá para a frente com o processo porque este caso tem potencial para provocar um abanão no sistema do futebol actual. Geralmente, os casos judiciais com origem no futebol, em primeiro lugar são escassos, e em segundo lugar são o típico caso da montanha que pariu um rato. O "apito dourado" já vai por esse caminho, pelo que não se espera nada de especial.
Na minha opinião, o futebol é um mundo pouco transparente e que vive aparte do sistema judicial. Até se podia fechar os olhos a isto se o dinheiro envolvido neste meio fosse de quantias simbólicas. Mas não é, e por isso acho que é urgente haver um caso escandaloso que obrigue o futebol a descer ao nível de qualquer cidadão ou qualquer empresa sujeitos ao nosso ordenamento jurídico. A FIFA comporta-se quase como uma organização internacional supranacional e as entidades internas gerem o sector com uma falta de profissionalismo alarmante capaz de levar a grandes injustiças (por serem grandes as quantias de dinheiro envolvidas). Depois, escudam-se no fanatismo do povo contra qualquer intervenção desfavorável do Governo ou sociedade.
Ao que parece, a UE está com vontade de pôr alguma ordem nisto, e espero que o faça, mas, a nível nacional não vejo grandes melhorias.
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