Sunday, January 29, 2006

Serviço Público de Televisão?

Hoje, o telejornal da RTP1 (e provavelmente também os outros) abriu com a notícia de que caíra neve em zonas do país em que tal era impensável. Até aqui tudo bem - significa que é a notícia mais importante do dia e tem de facto algum interesse.
Mas não consigo encontrar justificação para a mais de meia-hora de reportagens e directos (!) que se seguiram. Nessas peças jornalísticas tivémos oportunidade de ver as ruas de Lisboa e de outras cidades surpreendentemente cobertas com uma insignificante camada de neve; ouvimos também depoimentos de saloios completamente extasiados com tal fenómeno; soubemos que os portugueses não têm mais nada que fazer além de telefonar para os amigos a dizer que está a nevar; e, por fim, em cerca de 5min, fomos informados das estradas cortadas, das precauções que se deve ter e de eventuais acidentes ocorridos.
Lamentável, vergonhoso, repugnante.

Investimento Cego

Hoje soube de uma notícia que me perturbou. Tomei conhecimento de um investimento no Algarve que tem em mente um projecto baseado num complexo de urbanizações e de extensos campos para a prática de golfe. Sinceramente, cada vez me farto mais da passividade e subjugação a que Portugal se sujeita quando confrontado com más intenções baseadas em falsidades de desenvolvimento e investimento estrangeiro.

Ao que parece, todo este projecto terá início brevemente e já conseguiu vender grande parte dos lotes de moradias que tinha para venda. No mercado bolsista de Dublin, conseguiu-se a fantástica e aclamada proeza de venda de dezenas destas habitações, em apenas poucas horas.

Por detrás de cada projecto milionário feito no nosso país, e especialmente se este é proveniente de lá de fora, os objectivos e pressupostos devem ser conhecidos. Mas mais do que isso, devemos ter a capacidade de prever e evitar todo o tipo de intenções escondidas por detrás das ocultações e mentiras. Mais uma vez, ou não tivemos essa capacidade, ou mais grave ainda, se a tivemos, não a usamos.

É certo que este investimento estrangeiro traz mais dinheiro à região. Mas a crescente dependência dos Algarve no capital estrangeiro está a colocá-lo numa situação de afastamento do território nacional, por um lado, e à criação de condições para que os portugueses turistas sejam cada vez menos aclamados do que os estrangeiros detentores de capital. Cada vez mais vemos o Algarve a fugir das nossas mãos e cada vez mais o território sulista se torna cada vez mais central-europeu. Esta situação levanta uma perigosidade enorme se atentarmos na questão da dependência face ao exterior, que se irá fazer sentir de forma acentuada daqui a uns anos, a partir do momento em que não formos rentáveis.

Mas acima de tudo, o que mais me impressiona é a criação do dito campo de golfe no seio da urbanização. Sim, o investimento seria óptimo se um campo de golfe não absorvesse cerca de 80% das reservas de água do território todos os Verões, seja qual for a importância que isso terá. Andamos aqui regojizados com a emoção de termos investimento e a suicidar-nos com uma autêntica machadada no coração algarvio, ao esgotarmos as reservas hídricas que ainda existem. Para que serve o investimento se não tivermos água para consumo próprio? De que serve o investimento se não temos os recursos para o sustentar? Para quando o investimento é rentável: para quando o Algarve acabar com os aquíferos e restantes recursos hídricos e dessa forma se desertificar ao ponto de não possuir condições mínimas para a actividade turística?

Uma vergonha, mais uma a juntar às muitas que vemos todos os dias neste país que se afirma ser de 1º Mundo só porque pensa que está protegido pela mãe UE...

Saturday, January 28, 2006

Cooperação Inter-partidária

O que vou escrever aqui hoje vai certamente criar desgosto no meu caro colega Luís Araújo, mas surge apenas da minha singela opinião.

Nesta semana, o Governo liderado pelo Engenheiro José Sócrates trouxe para cima da mesa, na Assembleia da República, um conjunto de medidas destinadas a facilitar e a desburocratizar a criação de novas empresas. Tudo surge no âmbito do apelo ao investimento interno com o objectivo claro de impulsionar a actividade económica. Nada de errado. Até aqui... Marques Mendes, lider partidário do principal partido da oposição, o PSD, achou bem a intenção, mas não ficou convencido: estava à espera de mais, queria mais. Aquilo não basta, pelos vistos. Mas se não basta, por que razão não vemos pilhas e montes de projectos-lei da oposição em cima da mesa, prontos para debate? À excepção do Bloco de Esquerda com os seus projectos utópicos, não nos podemos regojizar de termos montes de projectos para serem debatidos. Não são propostas, são projectos. Não se confunda...

O que tenho reparado (e isto não será nada tipicamente português, mas aqui será mais notório devido à conjuntura) é uma certa rivalidade político-partidária que ofusca os objectivos a que todos eles se deveriam propôr. A prossecução desses mesmos objectivos depende de uma cada vez maior cooperação inter-partidária que coloque os interesses do país à frente dos interesses pessoais/corporativistas. Será complicado? Não me parece. Parece-me mais difícil saber quem dá o primeiro passo e qual o seu comprimento.

Não culpo o PSD por apenas estar na oposição: o próprio PS há menos de um ano fazia o mesmo. E os restantes partidos com assento parlamentar puxam cada um para seu lado na clara vontade de aumentar a sua esfera de influência dentro do coração do povo. Sei que digo isto como cidadão e que não tenho a noção do que lá dentro realmente se passa, mas que melhor altura e melhores cirscuntâncias conjunturais poderíamos ter como esta crise, para nos podermos unir em prol daquilo que realmente interessa: o interesse nacional, colectivo e comum. E não me venham com tretas...

Tuesday, January 24, 2006

Rescaldo das Eleições

No espaço de menos de um ano, Portugal foi espaço de eleições por 3 vezes. As 3 mais importantes. Em Fevereiro as legislativas, em Outubro as autárquicas e em Janeiro as presidenciais, tudo isto com o referendo da Constituição Europeia pelo meio do último Verão. Ou seja, Portugal viveu um período de intenso debate, concorrência e competitividade política e, acima de tudo, mudanças na chefia dos cargos públicos. Falou-se muito, mas chegou a hora de agir.

Nos próximos 3 anos em que, a correr normalmente, não haverá novas eleições, Portugal irá ter pela primeira vez nos últimos 32 anos de democracia, um Presidente da República conservador. Será algo de novo e algo do qual poderemos retirar novas ilações. Mas antes sequer de pensar nisso, um aspecto a considerar relativamente a todo este ambiente em que estas últimas eleições decorreram.

Chega o momento de pensar os motivos (e eventuais intenções) que Sócrates tem vindo a preconizar. Não será de todo ilegítimo pensar que o apoio de Sócrates no candidadato Soares teve um propósito específico: com um conhecimento antecipado do resultado eleitoral, o nosso PM sabia-o perfeitamente e tê-lo-á feito com a intenção de "afastar" Soares do raio de acção socialista, enconstando de vez o ex-PR à sua casinha com a sua reforma que tem vindo a receber todos estes anos. Foi, pelos vistos, a melhor forma de o fazer. Por outro lado, a manutenção da estabilidade dentro do PS, ao evitar desentendimentos e divisões dentro do partido (devido a Alegre) foi bem gerida, tanto mais que o poeta continua a rever-se nos ideais do partido. Poderemos pois fazer uma relativa "teoria da conspiração", envolvendo a intenção de Sócrates ao colocar as peças e personalidades de acordo com a sua vontade e de modo a que nada lhe surja no caminho na prossecução dos planos que tem no âmbito de Chefe de Governo.

Só neste contexto se poderá perceber o "vira-casacas" que tem sido nestes dias, ao criticar e tentar evitar que Cavaco Silva chegasse a Chefe de Estado (e ao fazê-lo inteligentemente na condição de secretário-geral do PS), ao passo que nestes dois dias pós-resultados tenha referido que, no interesse do país e em nome da estabilidade, tentará ao máximo um entendimento com o PR na resolução conjunta dos problemas reais do país. Só desta forma se entende que, de facto, dá um jeito enorme ao nosso PM que Cavaco Silva, nobre economista, esteja ao seu lado na política actual de rigor e restriçaõ orçamental, tendo desta forma todo o apoio que necessita para o fazer, e evitando percalços no caminho... Uma estratégia sábia, portanto...

Sunday, January 22, 2006

Sem Surpresas

Cavaco Silva ganhou e fez um discurso inequívoco: quer ajudar activamente, mas sempre em colaboração com o governo.
Sócrates também fez um discurso inequívoco: deixou as críticas da campanha no passado e vai colaborar com o presidente.
Manuel Alegre parece ter feito um discurso pacífico: permite concluir que, pelo menos nos próximos tempos, não vai fazer valer a votação que obteve no interior do PS, mantendo a maioria intacta.
Uma vez que nos próximos 3 anos não haverá eleições em Portugal (se tudo correr bem), posso concluir, e espero, que esses anos vão passar sem surpresas, tranquilamente. É bom para o país.
Infelizmente, não tenho a mesma opinião quanto ao plano internacional. Penso que há o risco de estarmos a entrar num período de grande instabilidade. Esclarecerei os meus pontos de vista neste aspecto em posts posteriores.
Por agora, celebremos esta grande vitória!

Post Inaugural

Este é o blog de três jovens que discutem sobre as mais variadas questões quando se juntam, principalmente no habitual café do fim-de-semana. Para nós, estas discussões são fonte, não só de enriquecimento cultural e intelectual, mas também de diversão; e é isso que pretendemos transmitir aos nossos honorabilíssimos leitores. A julgar pelas caras dos restantes companheiros do café, as nossas discussões devem ser algo fastidiosas para grande parte das pessoas, mas confiamos que haverá quem se interesse por conhecer as nossas opiniões, nem que sejamos nós próprios.
Vamos aqui escrever o que nos apetecer, mas o leitor fica desde já informado que os temas que mais nos atraem estão relacionados com política e sociedade.
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