Monday, July 31, 2006

Conflito Armado - até quando?


Não vale a pena indagar sobre qual tem mais culpa: se Israel, se o Hezbollah. Ambos têm, e no contexto histórico do Médio Oriente, Israel já sofreu muito mas também não hesitou em fazer estragos gravíssimos quando a situação não se lhe exigia, perdendo assim grande parte da legitimidade veiculada pela auto-defesa que tanto proclamam. Mas a questão crucial até nem é a da culpa. Nos últimos dias, o conflito armado entre ambos tem vindo a azedar-se e o número de vítimas inocentes aumenta geometricamente quando a tendência correcta deveria ser a oposta.

Por parte do Hezbollah, é mais do que notório que o rapto dos soldados israelitas apenas despoletou o conflito armado, visto que o choque já lá estava implantado, apenas à espera de um elemento catalisador que libertasse a pressão acumulada ao fim de tanto tempo de "cessar-fogo", chamemos-lhe assim. Foi uma espécie de gota-de-água que, por uma vez mais, serviu a Israel como pretexto para a legítima defesa. O que é certo é que tudo o que é nação ali à volta está contra Israel, e os grupos fundamentalistas sedeados nesses Estados não olham a meios para conquistar território e poder sobre os judeus. O Médio Oriente tornou-se uma região composta por vários Estados que consideram um deles um traidor, um diferente, um à parte. A estratégia levada a cabo com vista à queda de Israel só confirma cada vez mais a tese de que este é um conflito inevitável, não obstante ser passível de ser esfriado.

Israel, por seu turno, tem seguido uma política de resposta, tal como tem vindo a fazer todos estes anos até ao dia de hoje. Age por legítima defesa, sempre em resposta a todo o tipo de ataques e ameaças exteriores, sempre com o apoio norte-americano. Tal não é condenável. É até de louvar todo o esforço conjunto do povo judaico em aguentar a pressão todos estes anos, mesmo após uma Guerra Mundial que dizimou uma parte significativa da sua população. Ainda mais louvável será a atitude de manutenção de coesão do seu povo, cuja persistência e união lhes permitiu manter os seus direitos adquiridos sobre o território que ocupam. O que mais condeno em Israel é a sua tendência para a auto-defesa desmesurada, veiculada por ataques irracionais que acabam por causar vítimas inocentes desnecessariamente. Tem sido notória uma confiança cega na legítima defesa como álibi perfeito para o ataque armado, e tal privilégio perde-se a partir do momento em que age de forma irresponsável. A crise humanitária no Líbano é grave, e é disso um exemplo. Tem havido dificuldades sérias na entrega de provisões às populações afectadas, não obstante os corredores humanitários abertos, que apesar de existentes, são insuficientes e ainda perigosos.

No meio aparecem os EUA. O sr. Bush merecia mais um atestado de incompetência a juntar às centenas que deveriam ter sido emolduradas na Sala Oval. Demonstrou passividade e indiferença em relação ao conflito ao enviar a sra. Rice em vez dele, com a agravante de se limitar a tentativas diplomáticas que de nada servem a não ser para manter a imagem de falsa preocupação. O conflito é demasiado antigo para chegar lá e pedir um "cessar-fogo temporário" como solução provisória, como se fosse uma atitude suficiente relativamente à questão. Pensemos: se fosse assim tão simples, qualquer governante já o teria feito antes dele mesmo.

Mas como pedir moderação a um povo que sofre a cada minuto que passa? E como pedir cessar-fogo a grupos fundamentalistas? A via diplomática seria a melhor, mas é incompatível com as circunstâncias actuais, ainda para mais com a quantidade de interesses económicos cruzados no terreno. Uma posição consensual é difícil de obter, mas também os Estados não atingidos deverão falar. Trata-se de uma questão cada vez mais global, demasiado grave para ser ignorada por visões repetitivas de drama humanitário. Uma solução deve ser encontrada o mais rapidamente possível, e a ONU terá que bater com o punho na mesa se não quiser perder a pouca credibilidade que ainda mantém. Afinal de contas, é para isso que esta serve.


Post Scriptum: Em virtude do período de férias, o blogue estará em período de stand-by temporário. Não significará, no entanto, que não terá actualizações.

Wednesday, July 12, 2006

Racionalidade

A deslocalização da fábrica da General Motors (GM) na Azambuja é uma perda para todo o país, por afectar a actividade económica, e especialmente para os trabalhadores que agora ficarão desempregados.
Provavelmente, todos concordaremos que esta deslocalização, depois dos apoios dados pelo Estado português, não é um exemplo de ética, moralidade e lealdade. Ao que parece, juridicamente, este acto da GM também é reprovável por violação de obrigações contratuais. Simplificando, a atitude da GM é condenável por razões valorativas e por razões jurídicas.
Deixando o caso concreto e analisando o tema ao nível geral do funcionamento das empresas, tenho a dizer que estas não agem, nem são obrigadas a fazê-lo, de acordo com critérios de ética, moralidade e lealdade. As empresas agem com base em contas, números, numa sociedade juridicamente regulada.
Ética, moralidade e lealdade devem ser exigidas às empresas na estrita medida em que o Direito também o exige, pois, para quem não sabe, no Direito há um mínimo ético, aquele conjunto de valores éticos e morais que devem ser exigidos na sociedade a toda a gente, na mínima medida necessária. As empresas não têm uma consciência moral que as condene a si mesmas, como a nós, humanos, acontece quando fazemos algo moralmente inaceitável.
Portanto, e voltando ao caso concreto, é inútil fazer juízos valorativos acerca da deslocalização da GM. Simplesmente, a GM fez contas e concluiu que compensa deslocalizar a produção do Combo para Saragoça. A GM não pondera se isso é moralmente aceitável ou não. Quando muito, os gestores poderão fazê-lo, não a empresa. Ou o departamento de marketing pode achar que atitudes moralmente condenáveis prejudicam a imagem da empresa, mas aqui já se trata outra vez de contas; é uma questão de ver se os custos na imagem retiram a vantagem económica do acto imoral.
Mas, mais que inútil, é contraproducente. Estes juízos valorativos perturbam a racionalidade das contas e causam uma espécie de miopía. Quem os faz, pensa imediatamente em fazer tudo para impedir esta deslocalização, pensa em vingar-se da deslocalização e pensa em criar mecanismos para evitar futuras deslocalizações de outras empresas. Isto é miopía porque, quem o faz esquece-se (não vê) que, a médio e longo prazo, tais atitudes agressivas e legislação restritiva terão como consequência a diminuição da competitividade da economia, com cada vez menos multinacionais a quererem investir em Portugal.
Dito isto, gostaría que várias pessoas, a começar pelo Primeiro-Ministro, parassem de fazer juízos valorativos acerca da deslocalização, deixassem de dizer que o Estado vai fazer tudo para recuperar os apoios que deu e acima de tudo, que deixassem de o fazer com tanta agressividade e tanto alarido.
O Estado deve limitar-se a exigir em tribunal apenas o ressarcimento dos prejuízos que o alegado incumprimento contratual terá causado, evitando usar o tribunal como uma arena em que as imoralidades da malvada multinacional serão vingadas.
Vendo bem, Portugal lucrou com a presença da GM na Azambuja, mesmo que ela saia antes de terminado o prazo definido pelo contrato. Por isso, há que ter cuidado nestas questões. É preferível que multinacionais se instalem no país por menos tempo que o desejável, do que haja menos multinacionais instaladas mas uma deslocalização bem vingada.


Adenda: Aqui está um exemplo de agressividade desnecessária. Parece uma declaração de guerra.

Sunday, July 02, 2006

Falsa Aparência de Indiferença


Com um país mergulhado na euforia do Mundial de Futebol e mais preocupado fazer a festa em nome do guarda-redes Ricardo e dos seus companheiros, Sócrates e o seu Executivo bem podem agradecer a dádiva que lhes foi concedida. Assim o provam a demissão do ministro dos Negócios Estrangeiros, que se demitiu pelo tão usado pretexto de "problemas de saúde", demasiado difícil de ser demonstrado, demasiado "soft" para ser questionado.

Desde há mês e meio para cá, e mesmo antes de a competição começar, já os olhos e ouvidos dos portugueses estavam concentrados na "Equipa das Quinas" e no seu hipotético sucesso no Mundial, entusiasmo esse que se tem vindo a prolongar e a estender até hoje, agora que a Selecção garantiu, pelo menos, um lugar nos 4 melhores. Brevemente, mais festa. Independentemente dos próximos resultados, ainda muita tinta vai correr a respeito do futebol e do sucesso já garantido até esta altura. Quer isto dizer que, durante as próximas 2/3 semanas, as atenções dos media e dos cidadãos vão-se manter na mesma esfera, com "e se...'s" e "o que vai acontecer agora que...".

Findo este prazo, começam as férias dos portugueses. Verdade seja dita, muitas já começaram até. Com as pessoas a fugirem para as praias nas folgas e fins-de-semana, Julho vai ser mais um mês de indiferença. Segue-se Agosto e com ele as férias da família.

Facto após facto, chega Setembro e com ele o fim da euforia do Verão. Até lá, ninguém se vai importar com défices, segurança social, avaliação de professores, fecho de maternidades ou greves agendadas. Ou seja até começarem as "aulas dos putos", nada vai importar. O Verão é mesmo assim: uma estação diferente. Sempre o foi. Agradecem as medidas impopulares, que agora podem sair com mais discrição e permissividade.
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