Wednesday, December 06, 2006

Benefício ou Sacrifício?

Eu sempre defendi, desde que este Governo assumiu o controlo, que Sócrates tem sido um primeiro-ministro exemplar. Naturalmente que "exemplar" é arriscado e enganador, mas é indicativo de uma boa prestação na ampla análise.

Elevar o salário mínimo em 4,4 por cento nesta ronda negocial, e em 100 euros em apenas 5 anos, equivale a aumentar a um ritmo "anómalo" nestes últimos anos aquilo a que se costumava chamar "Rendimento Mínimo Garantido".

É verdade que o salário mínimo existe em apenas uma pequena parte da população, mas o seu nível carecia de aumento significativo e representava ainda uma fracção claramente desfavorecida da população. Resta saber se este acto de boa vontade é uma doação, isto é uma espécie de compromisso unilateral do Governo em manter a imagem perante o eleitorado, ou se se baseia mais numa expectativa de impulso na economia via consumo privado.

A meu ver, é mais um confronto de ideais, uma espécie de doseamento equilibrado imprescindível nesta fase de estagnação económica. Diz-se que sem sacrifícios, não se alcançam benefícios. Estamos perante o clássico trade-off entre a sustentabilidade e competitividade empresariais e o compromisso de elevação do rendimento dos consumidores. Apesar de indigesto, já era tempo de este aparecer...

Friday, December 01, 2006

Feriados

1 de Janeiro - Ano Novo
Fevereiro (3ª feira - data flexível) - Carnaval
Março/Abril (6ª feira - data flexível) - Sexta Feira Santa
Março/Abril (Domingo - data flexível) - Páscoa
25 de Abril - Dia da Liberdade
1 de Maio - Dia do Trabalhador
Maio (5ª feira - data flexível) - Corpo de Deus
10 de Junho - Dia de Portugal
15 de Agosto - Assunção de Nossa Senhora
5 de Outubro - Implantação da República
1 de Novembro - Dia de Todos os Santos
1 de Dezembro - Restauração da Independência
8 de Dezembro - Imaculada Conceição
25 de Dezembro - Natal

São estes os feriados que, juridicamente aceites, se comemoram em Portugal. Analisando bem, e sem qualquer tipo de entrosamento especial por qualquer um destes dias, qualquer um de nós tem autoridade para dizer que de facto gozamos demasiados feriados. Pior ainda, é "engraçado" (passo a ironia) notar que, dos 14 feriados (!), 8 são de origem religiosa, com base no catolicismo português. Mais de metade. O cenário entra em descalabro total quando reparamos que muitos dos feriados que gozamos assinalam dias/acontecimentos que a maior parte dos portugueses desconhecem. Os Telejornais encarregam-se de nos mostrar esse triste facto.

Posto isto, sem ir muito além na análise, que utilidade tem uma "Restauração da Independência de 1640" (dia de hoje) ou uma "Implantação da República de 1910" quando já temos o "Dia da Liberdade de 1974"? Terá alguma função enfatizadora? A reiteração da tradição revolucionária portuguesa sobressai a nossa cultura? E já agora, qual a utilidade pública de um "Carnaval"? Muitos não saberão que é de origem religiosa, mas ele existe e está lá, e no entanto, não lhe é dada grande simbolismo. E a quantidade de feriados marcadamente religiosos ao longo de todo o ano?

A análise fica ao critério de cada um. Provavelmente isto não cai bem no seio de muita gente, que por motivos ideológicos, religiosos ou pessoais, aplaude a contemplação de tais dias sem trabalho. Mas fica bem pensar nisto.

Wednesday, November 22, 2006

Impressionante

Alunos do básico/secundário contra aulas de substituição, professores contra o Novo Estatuto da Carreira Docente, membros do ensino em geral contra a Ministra da Educação, funcionários públicos contra o corte de regalias, trabalhadores despedidos contra a deslocalização, sindicatos contra aumentos salariais, estudantes do ensino superior contra o valor das propinas e a degradação dos edifícios e equipamentos, e agora, militares contra a acção do Governo no que a eles dizem respeito, numa iniciativa eufemisticamente denominada como "passeio do descontentamento"...
Mas será isto efectivamente justo e adequado ou é pura libertinagem?

Friday, November 17, 2006

Uma mãozinha

Da entrevista de Cavaco Silva, ontem, destacam-se as afirmações de que este governo é reformista e de que os reparos do Presidente da República ao Governo devem ser feitos em privado.
A primeira agrada ao PS e a segunda ao PSD. Mas a primeira é bem mais importante, não sendo apenas uma mãozinha a PS.
É um presente ao PS na medida em que vem mesmo a calhar depois de umas semanas que não correram lá muito bem ao governo. O povo já começava a pensar que afinal este governo não vai fazer mais que os outros e que o discurso reformista é só propaganda.
Por outro lado, se pensarmos a quem convem ser assegurado que o governo é reformista, não há dúvida que é ao eleitorado centro-direita. A esquerda não quer um governo reformista. Hoje, reformismo é sinónimo de políticas liberais, de redução do ditos direitos adquiridos, das prestações sociais e, principalmente, de redução da dimensão do Estado. Por isso, concluo que as afirmações de Cavaco Silva mudam a base de apoio do governo, que deixa de estar à esquerda, mas ao centro e à direita. Assim, nos próximos tempos, para se sustentar, o governo tem de agradar à esta nova base de apoio, diferente do que é tradicional nos governos PS.
Isto traz consequências para o rumo do governo e, a médio e longo prazo, no posicionamento político do PS, questão essa cuja pertinência foi evidente no recente congresso do PS

Nota: A utilização, por mim, da divisão esquerda-direita neste post, como noutros, é feita por motivos práticos de exposição do raciocínio. Na verdade, eu acho esta classificação demasiado simplista e, hoje, sem qualquer significado para além das simpatias partidárias do eleitorado. Não utilizo outra porque esta é a melhor entendida em geral na sociedade e porque, admito, ainda nem encontrei nenhuma outra que consiga abranger todo o eleitorado sem misturar planos diferentes. É uma questão a reflectir num futuro post.

Wednesday, November 08, 2006

Alvo fácil

Alberto João Jardim é um político populista, demagógico e desbocado. Não sou madeirense e nunca fui à Madeira; portanto, não sei se a sua obra é boa ou não, mas isto também não interessa para o caso.
O que interessa é que tudo o que Jardim diz, por ser dito da forma que ele diz, tem lugar nas primeiras notícias dos telejornais. Interessa também que o povo do continente desconfia dele porque consta que esbanja o dinheiro que recebe do continente e ainda faz insinuações separatistas.
Até há pouco tempo, os governos da república tinham medo de contradizer Jardim porque, a seguir, ele vinha para a televisão criticar fortemente o dito governo. Mas Sócrates virou a situação e mata três coelhos de uma cajadada só. Aprendeu que, quanto mais provoca Jardim, mais ele reage, e reage de forma cada vez mais disparatada. Ora, o que ganha com isso?
Directamente, ganha que Jardim perde ainda mais da pouca credibilidade de que goza no continente, levando a população do continente a colocar-se do lado de Sócrates nas contendas com Jardim.
Em segundo lugar, ganha porque o PSD fica neutralizado na questão. Jardim ainda goza de alguma influência no partido e os seus ataques ao líder são inevitáveis se este discorda dele. Por outro lado, o PSD não pode apoiar publica e explicitamente Jardim pelo facto descrito no parágrafo acima.
Por último, e mais importante, Sócrates consegue desviar as atenções do povo. Já repararam que de repente deixou de se falar das SCUT? Este assunto não está encerrado... A Lei das Finanças Locais parece que agora é só relativa à Madeira. Já não são transmitidas as críticas dos autarcas? E o orçamento, por sua vez, parece que não é muito mais que a Lei das Finanças Locais.
Enfim, muito engenhosa a táctica de Sócrates.

Thursday, November 02, 2006

Proporcionalidade e bom senso


A propósito desta notícia, pus-me a reflectir sobre a questão da demolição do "prédio Coutinho".
Eu sou acérrimo defensor do rigor no planeamento urbanístico e considero que, além de aspectos funcionais, o urbanismo deve contemplar aspectos estéticos.
Contudo, deve ter-se noção da proporcionalidade das coisas. Tanto quanto sei, a Vianapolis pretende demolir o prédio apenas por razões arquitectónicas e, de facto, o prédio é feio e está desenquadrado do contexto arquitectónico da cidade.
Mas será legítimo expropriar a casa de 300 pessoas por razões meramente estéticas? Eu acho que não. E que dizer da declaração de utilidade pública para a expropriação e demolição do edifício, com carácter de urgência? Loucura!
Portanto, concordo plenamente com esta decisão do tribunal e agrada-me que o rumo deste caso esteja a mudar para a direcção certa.

Sunday, October 29, 2006

Deja-vu


Sob pressão. Um ano depois, a França social que todos conhecemos volta a enfrentar problemas de integração e coesão social. Parece um retorno aos tempos das revoltas estudantis do passado, que terminavam todas em algum tipo de confronto policial que, por sua vez, justificava uma nova "emboscada", e as quais representavam um ciclo vicioso em espiral.

As reivindicações não são muito diferentes das circunstâncias actuais do típico país ocidental europeu, nomeadamente o emprego, a educação e, está claro, a integração.

Do lado económico-social, isto é pelo lado emprego e competitividade económica, a França assume os mesmos riscos que por cá passamos, muito embora a enfâse da reacção a tal fenómeno seja claramente menos condescendente daquela que os brandos costumes lusitanos nos induzem. A principal diferença está mesmo numa maior diversidade cultural que os gauleses apresentam no seu país, aliado a um constante grito de revolta pelos direitos adquiridos.

Do ponto de vista da integração, também se pode traçar uma analogia ao caso nosso. De facto, a França, tal como em certa medida se passa em Portugal, também colocou os direitos sociais demasiado elevados, sem simultaneamente harmonizar e estender todos esses privilégios a todos. Resultado: enorme fosso de benefícios aliada à concentração elitista desses mesmos direitos nos cidadãos nacionais.

É correcto afirmar que a França se assume como um modelo à parte nos contextos sociais actuais, muito embora possa constituir algum tipo de antevisão daquilo que amanhã nos poderá acontecer.

Wednesday, October 25, 2006

Política...


O Governo decidiu acabar com umas SCUT's aqui do norte do país. Na minha opinião, isto é uma decisão política movida por razões financeiras. Até aqui, nada contra. Sou a favor do fim do regime das SCUT e sou-o precisamente por causa das finanças do Estado. Só critico, e muito, o facto de esta acção ter abrangido só o norte do país.
Mas o Governo parece, convenientemente, não querer perceber que se trata de uma decisão política. O Governo tem-na apresentado como uma opção técnica, baseada nos mais rigorosos critérios de análise económica. Ora, como eu disse e repito, trata-se de uma decisão política, isto é, uma decisão em que tem de se ponderar a prioridade entre os vários interesses públicos. Portanto, o Governo está a enganar os portugueses e, como a mentira tem perna curta, já começam a aparecer nos jornais as mais evidentes contradições em relação às premissas "técnicas".
Na minha opinião, isto tem uma razão bem mais profunda que este episódio e essa razão é um sentimento de repulsa ao político que hoje se cultiva. Tudo o que é político (pessoas, partidos, opiniões, decisões) é considerado mau. A política é vista como o culto da arbitrariedade e isso assusta as pessoas. Os políticos como José Sócrates, percebendo isso, enfatizam os males da política e apresentam-se como técnicos. Mas eles são políticos e esquecem-se que, mais tarde ou mais cedo, vão sofrer com este tipo de actuação.

Monday, October 16, 2006

A injustiça dos desafortunados

Ontem vi uma notícia em que me espantou. Não tanto pela imprevisibilidade, mas mais pelo alerta de consciência que me causou no momento. Segundo o noticiário, haveria perto de 860 Milhões de pessoas a passar fome, todos os dias, em todo o Mundo. Nada de novo, até aqui. Verdade seja dita e permitam-me a franqueza, sempre pensei que fossem mais, que ultrapassassem a barreira do bilião. Talvez esteja aqui a diferença entre população abaixo do limiar da pobreza e população com fome.

Na mesma mini-reportagem, mais à frente, diz-se algo parecido com isto: "Existem, contudo, perto de mil milhões de obesos." Sim. Mil Milhões. Um bilião de pessoas com peso excessivo. E por peso excessivo não se entende um bocadinho gordo a mais, uma "pança" mais redondita ou algum "enchimento" dentro dos parâmetros normais a que se chama "intervalo aceitável." Entende-se, literalmente, "peso a mais". Peso a mais não surge por alimentação saudável e equlibrada, surge por descuidos maioritariamente voluntários de quem não tem um auto-controlo forte e sustentado.

Dizem que a causa de grande parte dos problemas do Mundo em Vias de Desenvolvimento (PVD) é a educação. Grosseirismos à parte, pode-se também afirmar que quase toda a fome está localizada nesses mesmos PVD. Por outro lado, é forçoso admitir que obesos... poucos os há nos países menos desenvolvidos, os tais PVD. Resumindo: onde há maior difusão de conhecimento, mais recursos, mais informação e onde a educação não é um luxo mas uma necessidade, temos os que pior sabem comer.

Ou seja, temos cerca de 1/8 da população a passar fome, mas temos 1/6 sem saber comer. São mais os que não se sabem alimentar do que aqueles que não o conseguem fazer por insuficiência de rendimentos e/ou por falta de recursos.

Dá que pensar. Mas que estranho e doloroso mundo em que vivemos...

Monday, October 09, 2006

Liberdade vs ... Liberdade?

Tenho acompanhado com alguma apreensão as notícias relativamente às duas polémicas perseguições policiais que, nos últimos 5 dias, acabaram em "tragédia", bem como o sequestro na dependência bancária do BES (salvo erro) de Setúbal. Parece que, mais uma vez, carecem "notícias-impacto" nos media, sendo notório que, à excepção da eleição do novo Procurador Geral da República, não há matéria profunda sobre a qual seja justificável debruçar-se. No meio de periódicos conflitos partidários e de fracos desenvolvimentos no âmbito do ensaio nuclear da Coreia do Norte (até hoje!), aproveitam-se notícias como esta como mediadores de manipulação ideológica.

No caso do assalto e sequestro do banco, tal ficou-me na memória como uma alusão ao filme "Dog Day Afternoon" (Um Dia de Cão), em que se passa praticamente o mesmo: dois assaltantes (difere apenas aqui) sequestram pessoas num banco, após uma tentativa frustrada de assalto e consequente fuga. Baseado numa história verídica, foi um assalto que durou 12 horas (coincidência...) e prolongou-se desde a tarde até de madrugada, tornando-se num autêntico circo dos media... E por isto se demonstra que, por cá, há necessidade em mostrarmos coisas destas pois há vontade em dizer que também somos um país desenvolvido (com os seus assaltos de 12 horas a bancos), e convém mostrar que sabemos lidar com tais factos. No fundo, após tantos anos sem qualquer notícia semelhante, quer-se evidenciar que chegou a altura de divulgar como deve ser uma história deste género, com todos os condimentos importantes e algumas pitadas de "últimas horas" e "directos-em-que-nada-de-novo-se-acrescenta".

No que diz respeito ao primeiro acontecimento, o das perseguições, desde sempre que houve, no nosso país, um pequeno preconceito em relação à acção das forças policiais, fossem elas quais fossem. É comum entre muitos que se devem colocar os direitos individuais dos cidadãos num patamar tão alto que impedem qualquer tentativa de leve supressão dos mesmos em prol de uma liberdade colectiva, qual direito inferior, e que de certa forma espelha o que está transcrito na Ordem Jurídica Portuguesa.

Verdade seja dita que não se quer uma força policial liberal, modelada de um modo pró-EUA, em que qualquer direito individual reconhecido é tanta vez transposto em nome da segurança colectiva, a qual muita das vezes nem sequer é trazida ao de cima. Mas, se por um lado, reconhecemos que a liberdade individual é inatíngivel e incontornável perante tamanha injustiça, por outro lado torna-se necessário, quiçã imperioso, analisar o outro pólo da questão demarcado pela segurança colectiva, por vezes tão sobejamente ignorada.

Contextualizando o ponto de vista, não é tanto a orientação ideológica em relação à força policial que mais importa, mas mais a racionalização do que ouvimos, vemos e ficamos a saber. Convém também pensar que os jovens que fugiam da polícia não eram "inocentes", tentavam escapar de um crime grave. Tal não servirá (nem nunca poderá) servir de desculpa, pretexto ou justificação para a acção dos agentes policiais, mas será uma atenuante a considerar. Porque se os jovens escapassem e atropelassem alguém, os agentes eram culpados de inércia e lamentavam-se as vítimas; como actuaram com vista a impedir que algo de foro ainda mais grave acontecesse, são ostracizados por acção. São polícias presos por terem cão e por não terem. Ironicamente, é esta a realidade. Em que ficamos?...

Wednesday, October 04, 2006

A Acompanhar...

... a 2ª volta das eleições presidenciais brasileiras.
Nas últimas semanas da campanha para a 1ª volta, Lula iniciou uma fase descendente nas suas intenções de voto, o que foi agravado pela ausência no último debate televisivo, à semelhança do que aconteceu nos anteriores.
Quanto à campanha de Alckmin, pouco tem sido dito na comunicação social portuguesa, além de algumas generalidades, mas deve ter tido boa performance, uma vez que obteve uns surpreendentes 41,6%.
Tendo em conta que a vitória de Lula à 1ª volta era considerada certa há bem pouco tempo, não é difícil concluir que a tendência descendente de Lula torna-se mais difícil de travar e que a campanha de Alckmin ganha mais fôlego.
Para já, o resultado das eleições é totalmente imprevisível, mas as consequências de qualquer resultado já podem ser analisadas.
Uma vitória de Alckmin é um verdadeiro revés na cena política brasileira e uma desilusão para a esquerda a nível mundial que insistia em acreditar num sindicalista sem qualquer sentido de estado nem sensibilidade política de alto nível, isto é, quando se exige mais do que convencer ao voto através de promessas. Por outro lado, o Brasil melhoraria a relação com os EUA, o que traz benefícios económicos para o país. Ainda no plano internacional, seria interessante ver os reflexos desta eventual vitória no espectro político sul-americano, actualmente virado à esquerda.
Uma vitória de Lula, ao contrário do que se possa pensar, não significa que a situação actual se manteria. E isto porque a tendência descendente da popularidade de Lula não vai parar no dia das eleições, o que, no caso da sua vitória, faz prever um mandato muito difícil. Os escândalos serão inevitáveis, como agora, e o povo que beneficiou das políticas sociais de Lula, como sempre, vai exigir mais. O encanto do operário que chegou a presidente já começou a desvanecer-se e não pode suportar mais asneiras.
A acompanhar, portanto.

Monday, October 02, 2006

Reconhecimento


Entramos na "Nobel Season", diga-se, a época anual de divulgação dos galardoados com o mais nobre e reconhecido prémio mundial em várias áreas. Hoje, Andrew Z. Fire e Craig C. Mello, ambos norte-americanos, viram reconhecidos os seus esforços no âmbito da genética que facilitarão o desenvolvimento de novas terapias, nomeadamente em uma mais eficaz luta contra o cancro.

Datas das restantes atribuições e da entrega dos galardões:
03 Outubro - Física
04 Outubro - Química
09 Outubro - Economia
12 Outubro - Literatura
13 Outubro - Paz
10 Dezembro - Entrega dos 6 prémios

Sunday, September 24, 2006

Manipulados




"Sem perícia militar, estes bárbaros são todavia temerosos nas pelejas, porque os capitães experimentados da Arábia os dirigem e movem como lhes apraz, e porque, sectários de uma religião nova, crédulos mártires do inferno, buscam os embusteiros e torpes deleites que, além da morte, lhes prometeu o profeta de Iátribe, arremessando-se com um valor que se creria de desesperados diante do ferro dos seus contrários e contentando-se de acabar, contanto que sobre os seus cadáveres se hasteie vitorioso o estandarte do Islame"

Lia ontem o cap. IX de Eurico, o presbítero, de Alexandre Herculano, e não pude deixar de reparar no paralelismo da situação descrita no excerto com a situação actual.
Este excerto explica a coragem dos muçulmanos aquando da invasão da Península Ibérica, no séc. VIII. Na altura, como agora, eles não eram especialistas na arte da guerra. E também agora eles seguem as ordens dos seus superiores sem medo da morte porque os "capitães experimentados" conduzem-nos invocando a sua religião.
Na minha opinião, é precisamente este aspecto da exaltação religiosa pelos superiores (religiosos, políticos, intelectuais, ou isto tudo ao mesmo tempo) que está na origem da radicalização do povo islâmico. A causa principal não é, como muitos - principalmente europeus de esquerda anti-americanos - vêm dizendo, a hegemonia do ocidente, materializada na intervenção no Afeganistão e na guerra do Iraque. Aliás, deve lembrar-se a estas pessoas que o 11 de Setembro foi antes disso...
Portanto, sem preconceitos, mas também sem tabus, deve-se tentar corrigir a situação no interior da cultura islâmica. Como Pacheco Pereira diz, não se tem ouvido um único intelectual islâmico condenar de forma veemente o terrorismo dos radicais sem um "mas". Isto revela que nem os islâmicos moderados estão fortemente empenhados em acabar com o terrorismo. Há que fazer pressão sobre estes, que, pensa-se, ainda fazem uso da razão, para influenciar a civilização islâmica em direcção à paz e à racionalidade.

Sunday, September 17, 2006

Darfur

No Sudão, existe uma região denominada Darfur, que nos últimos anos tem sido palco de tragédia e opressão. A região é habitada por povos sedentários que se dedicam às mais básicas actividades de subsistência, nomeadamente a agricultura e a pecuária. Durante vários anos, esta região foi alvo de indiferença e rejeição por parte do Governo do seu país, dados os conflitos entre estas populações e as facções Árabes que lutam pelos campos de cultivo e fontes de água. Só para dar uma ideia, o Governo do Sudão rejeitou ajudar as populações do Darfur que sofreram muito com secas consecutivas e que em grande escala os prejudicaram na sua subsistência.

No seguimento de uma rebelião dos indígenas do Darfur, o Governo Sudanês de influência marcadamente árabe, ordenou a criação de milícias árabes denominadas janjaweed, cuja actividade se resume à destruição dos campos de cultivo e ao massacre em massa dos indígenas do Darfur.

Existe na região uma força de manutenção de paz, a União Africana, cujo objectivo é restaurar o ambiente de coexistência pacífica entre as "culturas". Todavia, os seus meios de alcance são altamente inferiores e perfeitamente inúteis face ao poderio militar transpirado pelas milícias árabes. O Governo Sudanês mandou expulsar esta força de manutenção de paz até ao fim do presente mês, sendo que se vão retirar dia 20.

A partir desse dia, as mílicias terão margem de manobra ilimitada para fazer o que têm vindo a fazer até agora: violar e matar em público. Dada a soberania do Estado do Sudão e a sua relutância em permitir a entrada da ONU, esta mostra-se manifestamente impotente para com esta tragédia humana que, pensa-se, irá adquirir dimensões astronómicas já a partir de Outubro.

Isto não é um mail em cadeia. Nem sequer é um mail. É um post. Um post diferente do habitual até agora. E é também um apelo. Todos vimos o que aconteceu no Ruanda e não teremos prazer nenhum em esperar indiferentemente pelo natural desenvolvimento do fenómeno para, no final, atirarmos as culpas da inércia uns para os outros. Serão 30.000 mortos por dia, só de fome. Não é modesto.

http://www.savedarfur.org/content?splash=yes

http://www.darfurgenocide.org/

http://www.hrw.org/doc?t=africa&c=darfur

Friday, September 15, 2006

Finca-pé

«Blatter lamenta ainda a intervenção de entidades extra-desportivas no futebol português

É impressão minha, ou o Presidente da FIFA lamenta que outros sectores da sociedade portuguesa, nomeadamente o Governo e os Tribunais, estejam preocupados com a situação e façam o que é seu dever para resolver o assunto da forma correcta?
Apoio cada vez mais a luta do Gil Vicente. É pena que o presidente deste clube não esteja à altura da sua tarefa e, sempre que fale, aproveite esses momentos para dizer umas barbaridades e fazer demagogia. Contudo, parece ter entregue o caso a uma equipa competente e tenho esperanças que o mundo do futebol, um dia, volte ao seu lugar, isto é, que se sujeite às leis do Estado onde é praticado.

Saturday, September 09, 2006

O Lado Escondido do Acordo da Justiça

Não gosto muito de ouvir Sócrates a discursar, e verdade seja dita, este tem tendência a ser repetitivo e redundante. Marques Mendes foi, pelo contrário, mais conciso e directo, focando as principais consequências que derivam de um acordo desta natureza. Seja como for, ambos quiseram evidenciar as repercussões que este acontecimento irá ter na classe política dos dois maiores partidos nacionais, por natureza opostos e "rivais", sob o argumento hipócrita de que "quem sai a ganhar é Portugal".

O acordo conseguido, quer queiramos quer não, foi um marco na democracia portuguesa. Parece que finalmente a nossa classe política atingiu o patamar de coragem suficiente para manobrar um acordo cuja importância transcende todo o conjunto de provocações, mentiras e dúbias intenções presenciadas ao longo do ano, entre os representantes partidários.

Fica bem, e é bonito dizer que Portugal sai a ganhar. Mas fica feio ver que se ficam pela promessa, pela palavra e pela intenção. Se Portugal sai tanto a ganhar com os acordos, por que são estes tão raros, ao ponto de termos presenciado ontem o primeiro na nossa história democrática?

Por favor, não me venham com questões de credibilidade e imagem política, interessam-me tanto como a morfologia de uma laranja. A vontade em parecer algo que não são, em querer fazer-nos crer que o carácter raro destes acontecimentos é sinal de rejubilância pomposa, passo o pleonasmo, parece querer também impingir que nos devemos sentir manifestamente congratulados com esta manifestação de cooperação, quando estes actos deveriam ser hábito constante e sucessivo da vida democrática do país, se é que aquilo que lhes interessa mesmo é "colocar os interesses do país à frente dos partidários", como nos querem fazer crer.

Friday, September 08, 2006

Acordo na Justiça

Os dois maiores partidos portugueses comprometeram-se num acordo sobre a Justiça e já se começa por aí a analisar qual deles ganhou com isto ou então a criticar a formação de um bloco central que ameaça uma oposição saudável ao Governo.
Na minha opinião, com este acordo só perde o CDS/PP, porque é o único partido que se posiciona como partido de poder e que foi esquecido num acordo que pretende sobrepor-se às trocas de governos. Os outros partidos, PCP e BE, até ganham, porque podem ir por uma estratégia de vitimização. O PSD perde no sentido em que já não pode criticar o Governo acerca da Justiça, mas ganha em credibilidade.
Por outro lado, não é um acordo de âmbito sectorial que denuncia a germinação de um bloco central. Aliás, ainda poderá haver lugar para um acordo no sector da Segurança Social. Penso que este acordo é desejável, dado que o PSD, a meu ver, tem uma proposta bastante interessante e a reforma deste sector é urgente. Mais acordos além deste só serviriam para apagar o PSD e, aí sim, a oposição deixa de ser saudável.

Tuesday, September 05, 2006

Quanto mais barulho, melhor

O título refere-se ao caos que nos últimos tempos se instalou no futebol português. Eu devo confessar que o futebol não me atrai especialmente e por vezes me irrita o exagerado tempo de antena que é concedido a este desporto. Mas não é por isso que quero mais caos.
Eu quero que o Gil Vicente vá para a frente com o processo porque este caso tem potencial para provocar um abanão no sistema do futebol actual. Geralmente, os casos judiciais com origem no futebol, em primeiro lugar são escassos, e em segundo lugar são o típico caso da montanha que pariu um rato. O "apito dourado" já vai por esse caminho, pelo que não se espera nada de especial.
Na minha opinião, o futebol é um mundo pouco transparente e que vive aparte do sistema judicial. Até se podia fechar os olhos a isto se o dinheiro envolvido neste meio fosse de quantias simbólicas. Mas não é, e por isso acho que é urgente haver um caso escandaloso que obrigue o futebol a descer ao nível de qualquer cidadão ou qualquer empresa sujeitos ao nosso ordenamento jurídico. A FIFA comporta-se quase como uma organização internacional supranacional e as entidades internas gerem o sector com uma falta de profissionalismo alarmante capaz de levar a grandes injustiças (por serem grandes as quantias de dinheiro envolvidas). Depois, escudam-se no fanatismo do povo contra qualquer intervenção desfavorável do Governo ou sociedade.
Ao que parece, a UE está com vontade de pôr alguma ordem nisto, e espero que o faça, mas, a nível nacional não vejo grandes melhorias.

Saturday, August 26, 2006

E assim vai o futebol...

Tentei, mas não consegui resistir a fazer uma menção a [mais] um triste caso do futebol português, que [mais uma vez] tem direito a cobertura em directo, nos primeiros minutos dos 3 canais generalistas que têm Noticiário às 20h. Se não é a corrupção, é a ineficácia do "sistema jurídico" que gere o futebol e os processos que se arrastam durante o Verão todo, para explodirem e causarem problemas mesmo no início do campeonato seguinte. Falta de tempo não tiveram. Estiveram a dormir? Ou de férias?

Assim vai o futebol. E os media. Nada a que não estejamos habituados...

Friday, August 25, 2006

Ainda a crise...

Desde o ano de 2001 que Portugal sofre oficialmente de um problema crónico relacionado com a sustentabilidade das contas públicas. E digo oficialmente de forma propositada, visto que muitos responsabilizam o Executivo de Guterres e os seus projectos megalómanos (Expo 98, Euro 2004, emprego massivo de função pública,...), outros culpam Cavaco (crise de 1993 e anos seguintes) e outros vão ainda mais longe, atribuindo a responsabilidade aos governos pós-25 de Abril e as sucessivas nacionalizações e re-privatizações que estes protagonizaram. Seja como for, o diagnóstico era visível a priori e não terá sido bem manejado, de modo que atingimos um patamar de estabilização económica, uma espécie de semi-bonança após a pior tempestade dos últimos anos.

Na verdade, Portugal tem sido mau aluno desde que Salazar fez a sua última boa decisão (excluindo o "cair da cadeira"), que terá sido não alinhar Portugal em qualquer um dos lados da 2ª Guerra Mundial. Graças a tal acção (passo o egoísmo, pois hoje seriam circunstâncias diferentes), o nosso país conseguiu adquirir independência financeira comparativamente aos restantes países europeus intervenientes na guerra, e dessa forma, atingimos um desenvolvimento bastante aceitável, "à custa da tragédia".

Porém, Salazar apostou posteriormente numa política de produção por substituição das importações, potencializando a indústria nacional por forma a relançar o consumo interno e a proteger aquilo que era produzido cá, graças a um venerado proteccionismo, que estagnou os sectores dinamizadores da economia e empurrou tudo e todos para a agricultura e actividades similares.

Sim, houve uma altura em que fomos superiores a Espanha, vantagem essa que foi anulada pelo tempo graças à inércia e desgaste do regime salazarista e com a revolução dos cravos, período esse muito conturbado e que fez com que Portugal demorasse a encontrar o seu verdadeiro rumo.

Poderia apontar aqui várias causas: não-aproveitamento dos fundos comunitários, más políticas de gestão das autarquias, planeamento central, economia baseada em produtos de baixo valor mas sobretudo baixo nível educacional. Mas foi este último o problema crónico.

Apesar de tudo, verdade seja dita... esta crise trouxe consigo aspectos positivos. Desde há algum tempo para cá, o despesismo tem sido visto com outros olhos, pensa-se duas vezes antes de contrair empréstimos, as importações baixaram (juntamente com a noção de que se produz bem por cá), há maior empreendedorismo e cultura de risco e anda-se mais com os pés assentes na terra. É como se diz... "há males que vêm por bem".
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