Sunday, January 29, 2006

Investimento Cego

Hoje soube de uma notícia que me perturbou. Tomei conhecimento de um investimento no Algarve que tem em mente um projecto baseado num complexo de urbanizações e de extensos campos para a prática de golfe. Sinceramente, cada vez me farto mais da passividade e subjugação a que Portugal se sujeita quando confrontado com más intenções baseadas em falsidades de desenvolvimento e investimento estrangeiro.

Ao que parece, todo este projecto terá início brevemente e já conseguiu vender grande parte dos lotes de moradias que tinha para venda. No mercado bolsista de Dublin, conseguiu-se a fantástica e aclamada proeza de venda de dezenas destas habitações, em apenas poucas horas.

Por detrás de cada projecto milionário feito no nosso país, e especialmente se este é proveniente de lá de fora, os objectivos e pressupostos devem ser conhecidos. Mas mais do que isso, devemos ter a capacidade de prever e evitar todo o tipo de intenções escondidas por detrás das ocultações e mentiras. Mais uma vez, ou não tivemos essa capacidade, ou mais grave ainda, se a tivemos, não a usamos.

É certo que este investimento estrangeiro traz mais dinheiro à região. Mas a crescente dependência dos Algarve no capital estrangeiro está a colocá-lo numa situação de afastamento do território nacional, por um lado, e à criação de condições para que os portugueses turistas sejam cada vez menos aclamados do que os estrangeiros detentores de capital. Cada vez mais vemos o Algarve a fugir das nossas mãos e cada vez mais o território sulista se torna cada vez mais central-europeu. Esta situação levanta uma perigosidade enorme se atentarmos na questão da dependência face ao exterior, que se irá fazer sentir de forma acentuada daqui a uns anos, a partir do momento em que não formos rentáveis.

Mas acima de tudo, o que mais me impressiona é a criação do dito campo de golfe no seio da urbanização. Sim, o investimento seria óptimo se um campo de golfe não absorvesse cerca de 80% das reservas de água do território todos os Verões, seja qual for a importância que isso terá. Andamos aqui regojizados com a emoção de termos investimento e a suicidar-nos com uma autêntica machadada no coração algarvio, ao esgotarmos as reservas hídricas que ainda existem. Para que serve o investimento se não tivermos água para consumo próprio? De que serve o investimento se não temos os recursos para o sustentar? Para quando o investimento é rentável: para quando o Algarve acabar com os aquíferos e restantes recursos hídricos e dessa forma se desertificar ao ponto de não possuir condições mínimas para a actividade turística?

Uma vergonha, mais uma a juntar às muitas que vemos todos os dias neste país que se afirma ser de 1º Mundo só porque pensa que está protegido pela mãe UE...

2 Comments:

Blogger Luís Araújo said...

Quanto à primeira parte do texto, discordo totalmente. Não vejo problema nenhum em ficarmos dependentes dos reformados da Europa Central e do Norte. Meu caro, estamos num mundo globalizado! Todos estamos interdependentes. Não vale a pena, aliás, é um erro fugir a este facto. E ninguém vai tirar o Algarve aos portugueses.
Quanto à parte da questão ambiental, não posso discordar, como é óbvio. Contudo, acho que o Algarve deve tentar potencializar a reputação que tem como destino para golfistas; desde que observe as questões ambientais e, em compensação, corte os gastos de água noutras actividades menos produtivas.

January 29, 2006 10:29 PM  
Blogger Luis Oliveira said...

ah ah!

Eu vejo um problema grande. Por agora, até nem é notório, mas quando o Algarve ficar sem recursos naturais disponíveis (e a este ritmo, é uma questão de tempo) deixa de ter as estruturas necessárias para o turismo e deixa de ser vantajoso. E aí quero ver quem os salva, se são os reformados europeus ou o Orçamento de Estado Português... É muito bonito sermos o país de destino dos "velhotes" mas com a tendência actual de preços e este tipo de políticas que não olha a meios, eles daqui a pouco começam a ir para o Sul de Espanha, melhor e mais barato... É essa dependência a que me refiro.

"acho que o Algarve deve tentar potencializar a reputação que tem como destino para golfistas;"

O turismo é importante, mas mais importante que o turismo é a sustentabilidade da região. Podemos ter ecossistema sem turismo, mas não podemos ter turismo sem ecossistema.

"desde que observe as questões ambientais e, em compensação, corte os gastos de água noutras actividades menos produtivas."

Em quê? Na agricultura? Ou no consumo privado? O consumo privado é tão pouco significativo que não ultrapassa os 5% do consumo total, e a agricultura depende exclusivamente da água. A restante maioria é absorvida pelas tais "actividades menos produtivas" que referes, como o golfe. Isso é despersdício. Não é meter um chuveiro nas praias para as pessoas se lavarem no fim do dia...

January 30, 2006 12:07 AM  

Post a Comment

<< Home

Site Meter