No espaço de menos de um ano, Portugal foi espaço de eleições por 3 vezes. As 3 mais importantes. Em Fevereiro as legislativas, em Outubro as autárquicas e em Janeiro as presidenciais, tudo isto com o referendo da Constituição Europeia pelo meio do último Verão. Ou seja, Portugal viveu um período de intenso debate, concorrência e competitividade política e, acima de tudo, mudanças na chefia dos cargos públicos. Falou-se muito, mas chegou a hora de agir.
Nos próximos 3 anos em que, a correr normalmente, não haverá novas eleições, Portugal irá ter pela primeira vez nos últimos 32 anos de democracia, um Presidente da República conservador. Será algo de novo e algo do qual poderemos retirar novas ilações. Mas antes sequer de pensar nisso, um aspecto a considerar relativamente a todo este ambiente em que estas últimas eleições decorreram.
Chega o momento de pensar os motivos (e eventuais intenções) que Sócrates tem vindo a preconizar. Não será de todo ilegítimo pensar que o apoio de Sócrates no candidadato Soares teve um propósito específico: com um conhecimento antecipado do resultado eleitoral, o nosso PM sabia-o perfeitamente e tê-lo-á feito com a intenção de "afastar" Soares do raio de acção socialista, enconstando de vez o ex-PR à sua casinha com a sua reforma que tem vindo a receber todos estes anos. Foi, pelos vistos, a melhor forma de o fazer. Por outro lado, a manutenção da estabilidade dentro do PS, ao evitar desentendimentos e divisões dentro do partido (devido a Alegre) foi bem gerida, tanto mais que o poeta continua a rever-se nos ideais do partido. Poderemos pois fazer uma relativa "teoria da conspiração", envolvendo a intenção de Sócrates ao colocar as peças e personalidades de acordo com a sua vontade e de modo a que nada lhe surja no caminho na prossecução dos planos que tem no âmbito de Chefe de Governo.
Só neste contexto se poderá perceber o "vira-casacas" que tem sido nestes dias, ao criticar e tentar evitar que Cavaco Silva chegasse a Chefe de Estado (e ao fazê-lo inteligentemente na condição de secretário-geral do PS), ao passo que nestes dois dias pós-resultados tenha referido que, no interesse do país e em nome da estabilidade, tentará ao máximo um entendimento com o PR na resolução conjunta dos problemas reais do país. Só desta forma se entende que, de facto, dá um jeito enorme ao nosso PM que Cavaco Silva, nobre economista, esteja ao seu lado na política actual de rigor e restriçaõ orçamental, tendo desta forma todo o apoio que necessita para o fazer, e evitando percalços no caminho... Uma estratégia sábia, portanto...