Sunday, October 29, 2006

Deja-vu


Sob pressão. Um ano depois, a França social que todos conhecemos volta a enfrentar problemas de integração e coesão social. Parece um retorno aos tempos das revoltas estudantis do passado, que terminavam todas em algum tipo de confronto policial que, por sua vez, justificava uma nova "emboscada", e as quais representavam um ciclo vicioso em espiral.

As reivindicações não são muito diferentes das circunstâncias actuais do típico país ocidental europeu, nomeadamente o emprego, a educação e, está claro, a integração.

Do lado económico-social, isto é pelo lado emprego e competitividade económica, a França assume os mesmos riscos que por cá passamos, muito embora a enfâse da reacção a tal fenómeno seja claramente menos condescendente daquela que os brandos costumes lusitanos nos induzem. A principal diferença está mesmo numa maior diversidade cultural que os gauleses apresentam no seu país, aliado a um constante grito de revolta pelos direitos adquiridos.

Do ponto de vista da integração, também se pode traçar uma analogia ao caso nosso. De facto, a França, tal como em certa medida se passa em Portugal, também colocou os direitos sociais demasiado elevados, sem simultaneamente harmonizar e estender todos esses privilégios a todos. Resultado: enorme fosso de benefícios aliada à concentração elitista desses mesmos direitos nos cidadãos nacionais.

É correcto afirmar que a França se assume como um modelo à parte nos contextos sociais actuais, muito embora possa constituir algum tipo de antevisão daquilo que amanhã nos poderá acontecer.

Wednesday, October 25, 2006

Política...


O Governo decidiu acabar com umas SCUT's aqui do norte do país. Na minha opinião, isto é uma decisão política movida por razões financeiras. Até aqui, nada contra. Sou a favor do fim do regime das SCUT e sou-o precisamente por causa das finanças do Estado. Só critico, e muito, o facto de esta acção ter abrangido só o norte do país.
Mas o Governo parece, convenientemente, não querer perceber que se trata de uma decisão política. O Governo tem-na apresentado como uma opção técnica, baseada nos mais rigorosos critérios de análise económica. Ora, como eu disse e repito, trata-se de uma decisão política, isto é, uma decisão em que tem de se ponderar a prioridade entre os vários interesses públicos. Portanto, o Governo está a enganar os portugueses e, como a mentira tem perna curta, já começam a aparecer nos jornais as mais evidentes contradições em relação às premissas "técnicas".
Na minha opinião, isto tem uma razão bem mais profunda que este episódio e essa razão é um sentimento de repulsa ao político que hoje se cultiva. Tudo o que é político (pessoas, partidos, opiniões, decisões) é considerado mau. A política é vista como o culto da arbitrariedade e isso assusta as pessoas. Os políticos como José Sócrates, percebendo isso, enfatizam os males da política e apresentam-se como técnicos. Mas eles são políticos e esquecem-se que, mais tarde ou mais cedo, vão sofrer com este tipo de actuação.

Monday, October 16, 2006

A injustiça dos desafortunados

Ontem vi uma notícia em que me espantou. Não tanto pela imprevisibilidade, mas mais pelo alerta de consciência que me causou no momento. Segundo o noticiário, haveria perto de 860 Milhões de pessoas a passar fome, todos os dias, em todo o Mundo. Nada de novo, até aqui. Verdade seja dita e permitam-me a franqueza, sempre pensei que fossem mais, que ultrapassassem a barreira do bilião. Talvez esteja aqui a diferença entre população abaixo do limiar da pobreza e população com fome.

Na mesma mini-reportagem, mais à frente, diz-se algo parecido com isto: "Existem, contudo, perto de mil milhões de obesos." Sim. Mil Milhões. Um bilião de pessoas com peso excessivo. E por peso excessivo não se entende um bocadinho gordo a mais, uma "pança" mais redondita ou algum "enchimento" dentro dos parâmetros normais a que se chama "intervalo aceitável." Entende-se, literalmente, "peso a mais". Peso a mais não surge por alimentação saudável e equlibrada, surge por descuidos maioritariamente voluntários de quem não tem um auto-controlo forte e sustentado.

Dizem que a causa de grande parte dos problemas do Mundo em Vias de Desenvolvimento (PVD) é a educação. Grosseirismos à parte, pode-se também afirmar que quase toda a fome está localizada nesses mesmos PVD. Por outro lado, é forçoso admitir que obesos... poucos os há nos países menos desenvolvidos, os tais PVD. Resumindo: onde há maior difusão de conhecimento, mais recursos, mais informação e onde a educação não é um luxo mas uma necessidade, temos os que pior sabem comer.

Ou seja, temos cerca de 1/8 da população a passar fome, mas temos 1/6 sem saber comer. São mais os que não se sabem alimentar do que aqueles que não o conseguem fazer por insuficiência de rendimentos e/ou por falta de recursos.

Dá que pensar. Mas que estranho e doloroso mundo em que vivemos...

Monday, October 09, 2006

Liberdade vs ... Liberdade?

Tenho acompanhado com alguma apreensão as notícias relativamente às duas polémicas perseguições policiais que, nos últimos 5 dias, acabaram em "tragédia", bem como o sequestro na dependência bancária do BES (salvo erro) de Setúbal. Parece que, mais uma vez, carecem "notícias-impacto" nos media, sendo notório que, à excepção da eleição do novo Procurador Geral da República, não há matéria profunda sobre a qual seja justificável debruçar-se. No meio de periódicos conflitos partidários e de fracos desenvolvimentos no âmbito do ensaio nuclear da Coreia do Norte (até hoje!), aproveitam-se notícias como esta como mediadores de manipulação ideológica.

No caso do assalto e sequestro do banco, tal ficou-me na memória como uma alusão ao filme "Dog Day Afternoon" (Um Dia de Cão), em que se passa praticamente o mesmo: dois assaltantes (difere apenas aqui) sequestram pessoas num banco, após uma tentativa frustrada de assalto e consequente fuga. Baseado numa história verídica, foi um assalto que durou 12 horas (coincidência...) e prolongou-se desde a tarde até de madrugada, tornando-se num autêntico circo dos media... E por isto se demonstra que, por cá, há necessidade em mostrarmos coisas destas pois há vontade em dizer que também somos um país desenvolvido (com os seus assaltos de 12 horas a bancos), e convém mostrar que sabemos lidar com tais factos. No fundo, após tantos anos sem qualquer notícia semelhante, quer-se evidenciar que chegou a altura de divulgar como deve ser uma história deste género, com todos os condimentos importantes e algumas pitadas de "últimas horas" e "directos-em-que-nada-de-novo-se-acrescenta".

No que diz respeito ao primeiro acontecimento, o das perseguições, desde sempre que houve, no nosso país, um pequeno preconceito em relação à acção das forças policiais, fossem elas quais fossem. É comum entre muitos que se devem colocar os direitos individuais dos cidadãos num patamar tão alto que impedem qualquer tentativa de leve supressão dos mesmos em prol de uma liberdade colectiva, qual direito inferior, e que de certa forma espelha o que está transcrito na Ordem Jurídica Portuguesa.

Verdade seja dita que não se quer uma força policial liberal, modelada de um modo pró-EUA, em que qualquer direito individual reconhecido é tanta vez transposto em nome da segurança colectiva, a qual muita das vezes nem sequer é trazida ao de cima. Mas, se por um lado, reconhecemos que a liberdade individual é inatíngivel e incontornável perante tamanha injustiça, por outro lado torna-se necessário, quiçã imperioso, analisar o outro pólo da questão demarcado pela segurança colectiva, por vezes tão sobejamente ignorada.

Contextualizando o ponto de vista, não é tanto a orientação ideológica em relação à força policial que mais importa, mas mais a racionalização do que ouvimos, vemos e ficamos a saber. Convém também pensar que os jovens que fugiam da polícia não eram "inocentes", tentavam escapar de um crime grave. Tal não servirá (nem nunca poderá) servir de desculpa, pretexto ou justificação para a acção dos agentes policiais, mas será uma atenuante a considerar. Porque se os jovens escapassem e atropelassem alguém, os agentes eram culpados de inércia e lamentavam-se as vítimas; como actuaram com vista a impedir que algo de foro ainda mais grave acontecesse, são ostracizados por acção. São polícias presos por terem cão e por não terem. Ironicamente, é esta a realidade. Em que ficamos?...

Wednesday, October 04, 2006

A Acompanhar...

... a 2ª volta das eleições presidenciais brasileiras.
Nas últimas semanas da campanha para a 1ª volta, Lula iniciou uma fase descendente nas suas intenções de voto, o que foi agravado pela ausência no último debate televisivo, à semelhança do que aconteceu nos anteriores.
Quanto à campanha de Alckmin, pouco tem sido dito na comunicação social portuguesa, além de algumas generalidades, mas deve ter tido boa performance, uma vez que obteve uns surpreendentes 41,6%.
Tendo em conta que a vitória de Lula à 1ª volta era considerada certa há bem pouco tempo, não é difícil concluir que a tendência descendente de Lula torna-se mais difícil de travar e que a campanha de Alckmin ganha mais fôlego.
Para já, o resultado das eleições é totalmente imprevisível, mas as consequências de qualquer resultado já podem ser analisadas.
Uma vitória de Alckmin é um verdadeiro revés na cena política brasileira e uma desilusão para a esquerda a nível mundial que insistia em acreditar num sindicalista sem qualquer sentido de estado nem sensibilidade política de alto nível, isto é, quando se exige mais do que convencer ao voto através de promessas. Por outro lado, o Brasil melhoraria a relação com os EUA, o que traz benefícios económicos para o país. Ainda no plano internacional, seria interessante ver os reflexos desta eventual vitória no espectro político sul-americano, actualmente virado à esquerda.
Uma vitória de Lula, ao contrário do que se possa pensar, não significa que a situação actual se manteria. E isto porque a tendência descendente da popularidade de Lula não vai parar no dia das eleições, o que, no caso da sua vitória, faz prever um mandato muito difícil. Os escândalos serão inevitáveis, como agora, e o povo que beneficiou das políticas sociais de Lula, como sempre, vai exigir mais. O encanto do operário que chegou a presidente já começou a desvanecer-se e não pode suportar mais asneiras.
A acompanhar, portanto.

Monday, October 02, 2006

Reconhecimento


Entramos na "Nobel Season", diga-se, a época anual de divulgação dos galardoados com o mais nobre e reconhecido prémio mundial em várias áreas. Hoje, Andrew Z. Fire e Craig C. Mello, ambos norte-americanos, viram reconhecidos os seus esforços no âmbito da genética que facilitarão o desenvolvimento de novas terapias, nomeadamente em uma mais eficaz luta contra o cancro.

Datas das restantes atribuições e da entrega dos galardões:
03 Outubro - Física
04 Outubro - Química
09 Outubro - Economia
12 Outubro - Literatura
13 Outubro - Paz
10 Dezembro - Entrega dos 6 prémios
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