Desde o ano de 2001 que Portugal sofre oficialmente de um problema crónico relacionado com a sustentabilidade das contas públicas. E digo
oficialmente de forma propositada, visto que muitos responsabilizam o Executivo de Guterres e os seus projectos megalómanos (Expo 98, Euro 2004, emprego massivo de função pública,...), outros culpam Cavaco (crise de 1993 e anos seguintes) e outros vão ainda mais longe, atribuindo a responsabilidade aos governos pós-25 de Abril e as sucessivas nacionalizações e re-privatizações que estes protagonizaram. Seja como for, o diagnóstico era visível
a priori e não terá sido bem manejado, de modo que atingimos um patamar de estabilização económica, uma espécie de semi-bonança após a pior tempestade dos últimos anos.
Na verdade, Portugal tem sido mau aluno desde que Salazar fez a sua última boa decisão (excluindo o "cair da cadeira"), que terá sido não alinhar Portugal em qualquer um dos lados da 2ª Guerra Mundial. Graças a tal acção (passo o egoísmo, pois hoje seriam circunstâncias diferentes), o nosso país conseguiu adquirir independência financeira comparativamente aos restantes países europeus intervenientes na guerra, e dessa forma, atingimos um desenvolvimento bastante aceitável, "à custa da tragédia".
Porém, Salazar apostou posteriormente numa política de produção por substituição das importações, potencializando a indústria nacional por forma a relançar o consumo interno e a proteger aquilo que era produzido cá, graças a um venerado proteccionismo, que estagnou os sectores dinamizadores da economia e empurrou tudo e todos para a agricultura e actividades similares.
Sim, houve uma altura em que fomos superiores a Espanha, vantagem essa que foi anulada pelo tempo graças à inércia e desgaste do regime salazarista e com a revolução dos cravos, período esse muito conturbado e que fez com que Portugal demorasse a encontrar o seu verdadeiro rumo.
Poderia apontar aqui várias causas: não-aproveitamento dos fundos comunitários, más políticas de gestão das autarquias, planeamento central, economia baseada em produtos de baixo valor mas sobretudo baixo nível educacional. Mas foi este último o problema crónico.
Apesar de tudo, verdade seja dita... esta crise trouxe consigo aspectos positivos. Desde há algum tempo para cá, o despesismo tem sido visto com outros olhos, pensa-se duas vezes antes de contrair empréstimos, as importações baixaram (juntamente com a noção de que se produz bem por cá), há maior empreendedorismo e cultura de risco e anda-se mais com os pés assentes na terra. É como se diz... "há males que vêm por bem".