Tabaco - Novas Intenções
Nos últimos tempos, tem sido posto na agenda de discussão a nova Lei que se pretende fazer acerca do consumo de tabaco em locais públicos. O que o Executivo pretende levar em frente é a intenção de proibir o acto de fumar em restaurantes, cafés e snack-bares. A parte polémica reside nos locais de trabalho, nos bares e nas discotecas.
De nada me serve levantar os argumentos da praxe relativamente ao assunto. Todos sabemos que o tabaco é um prazer para os fumadores, e que muito embora a vontade destes em deixar possa ser explícita, nem sempre coincide com a sua acção prática. Escusado será mencionar que entre o prazer e a saúde pública, e dado o conflito, privilegia-se o segundo por razões óbvias, e aqui não há argumentos contra.
A questão a incidir neste aspecto será outra: que legitimidade terá o Estado em cercar os fumadores ao circunscrever o fumo em locais não-fechados? É aqui que as opiniões divergem. Eu, como não-fumador, e claro defensor do prazer-de-almoços-sem-fumo, aplaudo a iniciativa de ar puro nos locais de restauração. No tocante ao local de emprego, a opinião mantém-se: não tenho culpa que o meu colega do lado seja fumador compulsivo, e que se lhe falta um cigarro, começa a entrar em convulsão.
Mas se as coisas são claras no âmbito dos locais ditos "normais" e "cuja nossa presença é obrigatória" (para comer, trabalhar, etc...), a transparência desaparece, para nossa desvantagem, quando analisamos os bares e discotecas. Esbarra-nos o argumento de que "só lá está quem quer" e que como local de diversão nocturna, "o fumo será comum e trivial". Ora, se por um lado entendo a pertinência, por outro reafirmo que todos temos o direito a não querer inspirar o fumo prejudicial derivado do tabaco, especialmente se já lemos ESTA notícia.
Por outro lado, são medidas como estas que podem ajudar em alguma coisa em este âmbito. Não é o absurdo aumento do preço do tabaco que faz diminuir o consumo: esse só faz o Estado ter mais receitas. Também não é a proibição de o vender a menores de 16 anos: a maior parte compra-o nas máquinas automáticas. É preciso apostar na prevenção e na ajuda em programas de "desintoxicação" (passo o termo forte). Porque para as leis serem cumpridas, as pessoas devem estar mentalizadas para o problema.
Ou seja, e muito sucintamente, o tabaco é prejudicial e o tabaco é um privilégio de que poderemos abdicar caso não o queiramos. Crescemos e desenvolvemos em uma sociedade ocidental em que o acto de fumar é sucessivamente mais normal, e em que o respeito pelos não-fumadores desceu ao ponto de nem serem sondados num simples restaurante se se importam com o fumo. É o desrespeito e a indiferença. É a falta de sentido de comunidade. Não é um ataque aos fumadores, e tenho pena que se sintam bodes expiatórios; mas há limites que não devem ser ultrapassados. Espero, para o bem-estar geral, que esta Lei vá em frente e que seja cumprida ao máximo.
4 Comments:
Concordo com o essencial que parece ser a lei, mas acho que a medida mais eficaz seria mesmo o aumento do preço. Claro que tinha de ser um aumento brutal, para ver se os fumadores se assustam a sério, já que notícias como a que citaste nao o conseguem fazer.
Num país como Portugal, duvido que esta lei venha a ser realmente eficaz. Estou neste momento em Espanha (por isso nao tenho a tecla para o "til") e reparo que os restaurantes maiores trataram de instalar sistemas de ventilaçao que fazem com que nao seja proibido fumar. Nos restaurantes mais pequenos, ninguém fiscaliza nada. Portanto, continuarao todos a fumar.
Eu penso que o aumento do preço não iria dar em nada. Para além de ineficaz, seria injusto. Não é o acto de fumar que deve ser penalizado, mas sim o fazê-lo em locais fechados, prejudicando os outros. Aumentar o preço seria quase como dizer "apesar de legal, fumar está extremamente errado e queremos acabar com isso".
Quanto à fiscalização e à aplicação prática da lei, é natural que nem todos vão segui-la à risca. E quando a lei for aprovada (porque mais tarde ou mais cedo terá de o ser), sei que vão haver momentos em restaurantes em que vou ser obrigado a relebrar a fumadores que a lei existe. E sei também que em alguns bares não vai haver a mínima preocupação pelo respeito por esta lei.
" Aumentar o preço seria quase como dizer "apesar de legal, fumar está extremamente errado e queremos acabar com isso". "
É exactamente essa a imagem que se quer transmitir. Fumar é errado. Além disso, já pensaste no dinheiro que se gasta na Saúde graças ao fumo de tabaco?
Não penso que, como tu dizes, bares e discotecas seja um caso à parte só porque vais lá porque queres. Tu também se existes porque queres, senão suicidavas-te e não tinhas problema nenhum (é uma analogia algo parva, mas serve para o que quero explicar). Bares e discotecas oferecem serviços e esses serviços não podem ser, de alguma fora, discriminatórios. Por isso, não creio ser assim tão difícil arranjar uma divisão entre fumadores e não-fumadores, para além da instalação de sistemas de ventilação eficazes.
Eu sou a favor da lei, bem como da subida do preço do tabaco (bastante, não como o último aumento).
1º Eu não concordo com o "fumar", mas se dá prazer aos outros e eles o podem fazer sem prejudicar outros, então não me aquece nem me arrefece. Por mim, não havia tabaco; mas se há quem goste e quem fume, que razão terei eu para os discriminar?
2º Eu não disse que bares e discotecas estavam à parte. Pelo contrário, disse que há quem diga que estão à parte e usam esse argumento. E eu não concordo com tal coisa, tal como tu.
3º O dinheiro que se gasta na Saúde pelas doenças do tabaco não pode ser um argumento muito utilizado. Para onde vão as receitas dos impostos do tabaco? Chegam e sobram para pagar as despesas de Saúde e ainda dão para pagar umas estradas alcatroadas. Se esse dinheiro fosse utilizado para Ecotaxas (pelos gases lançados) e para prevenção aos jovens para não os incitarem a fumar, aí o argumento das despesas de Saúde fazia sentido. Até lá, qualquer aumento no preço dos cigarros só serve mesmo para cobrir o défice; fazê-lo para diminuir o consumo é ineficaz e injusto, para além de politicamente incorrecto. Mas serve como pretexto.
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