A minha geração
Vou falar do CPE (Contrato de Primeiro Emprego), essa coisa que, pertencendo eu à faixa etária entre os 16 e os 26 anos, deveria repudiar. Mas tal não acontece.
Muito resumidamente, o CPE prevê que os jovens até aos 26 anos de idade podem ser despedidos sem justa causa até aos 2 anos de contrato.
Confesso que quando ouvi esta medida fiquei algo chocado. Não tanto pela medida em si; até sou a favor da flexibilização do mercado de trabalho. Mas por ser o governo francês a anunciá-la. Nós sabemos, e sabe também a comunicação social que a França é como que a autoridade europeia dos direitos sociais. Penso que por esta razão, inicialmente, discordei da medida, tal como quase toda a gente da minha idade.
Mas estas coisas requerem sempre alguma reflexão. Uma pessoa não pode deixar-se levar pela corrente maioritária que se manifesta, das ruas aos jornais, televisões e rádios, como se concordar com esta medida é um absurdo.
Concordo com o CPE e causa-me profundo desgosto ver o pessoal da minha geração manifestar-se contra desta forma. Passo a explicar porquê.
Em primeiro lugar, diz quem percebe e diz-me também a lógica da razão, esta medida de flexibilização do mercado trabalho vai diminuir o desemprego. Os empregadores terão menos receio de empregar jovens: se não lhes satisfizer, despede; se se provar bom trabalhador, ganham os dois em que ele fique na empresa. Dinamiza a economia, potencializando a "mão invisível" de Adam Smith. Estas são as razões pelas quais concordo com a medida.
A razão que me provoca o desgosto tem a ver com a inércia da nossa geração. As pessoas têm medo de andar para a frente. De enfrentar o mundo como ele funciona. Enfim, têm medo de trabalhar. Espanta-me como há gente que se diz dinâmica, mas prefere ter um emprego mediocremente pago, pouco motivador, porém (!), fixo para os próximos anos e com a garantia de o patrão não chatear muito; ou, mesmo chato, não poder despedir. Há muito pouca ambição.
Os jovens deviam dispor-se a uma procura pelo emprego a que melhor se adaptam e não simplesmente querer agarrar-se contra a sua própria vontade e a do empregador ao primeiro emprego que lhes aparece. O resultado é que ficarão para sempre no mesmo cargo, com o mesmo salário, porém (!), e vá-se lá saber como isto os anima, é um emprego seguro para o resto da vida.
Face a isto, vejo tristemente a velha Europa, ou melhor, Europa velha, a ganhar nova força, encarnada nos jovens da minha geração. Espero que esta onda não se espalhe pelos outros países europeus - Reino Unido, Espanha e Alemanha são as minhas esperanças. Mas caso afecte, consigo já antever a Europa tal qual o emprego que estes jovens ditos lutadores almejam: medíocre, sempre igual, parada, vendo-se ultrapassada (cada vez mais) por América e Ásia.
Muito resumidamente, o CPE prevê que os jovens até aos 26 anos de idade podem ser despedidos sem justa causa até aos 2 anos de contrato.
Confesso que quando ouvi esta medida fiquei algo chocado. Não tanto pela medida em si; até sou a favor da flexibilização do mercado de trabalho. Mas por ser o governo francês a anunciá-la. Nós sabemos, e sabe também a comunicação social que a França é como que a autoridade europeia dos direitos sociais. Penso que por esta razão, inicialmente, discordei da medida, tal como quase toda a gente da minha idade.
Mas estas coisas requerem sempre alguma reflexão. Uma pessoa não pode deixar-se levar pela corrente maioritária que se manifesta, das ruas aos jornais, televisões e rádios, como se concordar com esta medida é um absurdo.
Concordo com o CPE e causa-me profundo desgosto ver o pessoal da minha geração manifestar-se contra desta forma. Passo a explicar porquê.
Em primeiro lugar, diz quem percebe e diz-me também a lógica da razão, esta medida de flexibilização do mercado trabalho vai diminuir o desemprego. Os empregadores terão menos receio de empregar jovens: se não lhes satisfizer, despede; se se provar bom trabalhador, ganham os dois em que ele fique na empresa. Dinamiza a economia, potencializando a "mão invisível" de Adam Smith. Estas são as razões pelas quais concordo com a medida.
A razão que me provoca o desgosto tem a ver com a inércia da nossa geração. As pessoas têm medo de andar para a frente. De enfrentar o mundo como ele funciona. Enfim, têm medo de trabalhar. Espanta-me como há gente que se diz dinâmica, mas prefere ter um emprego mediocremente pago, pouco motivador, porém (!), fixo para os próximos anos e com a garantia de o patrão não chatear muito; ou, mesmo chato, não poder despedir. Há muito pouca ambição.
Os jovens deviam dispor-se a uma procura pelo emprego a que melhor se adaptam e não simplesmente querer agarrar-se contra a sua própria vontade e a do empregador ao primeiro emprego que lhes aparece. O resultado é que ficarão para sempre no mesmo cargo, com o mesmo salário, porém (!), e vá-se lá saber como isto os anima, é um emprego seguro para o resto da vida.
Face a isto, vejo tristemente a velha Europa, ou melhor, Europa velha, a ganhar nova força, encarnada nos jovens da minha geração. Espero que esta onda não se espalhe pelos outros países europeus - Reino Unido, Espanha e Alemanha são as minhas esperanças. Mas caso afecte, consigo já antever a Europa tal qual o emprego que estes jovens ditos lutadores almejam: medíocre, sempre igual, parada, vendo-se ultrapassada (cada vez mais) por América e Ásia.
9 Comments:
Eu também sou um adepto da flexibilização do mercado de trabalho, mas não em moldes excessivamente liberais. Por isso é que eu próprio também me senti triste e espantado com as reacções espontâneas e comuns (porque são mesmo isso) dos jovens em França, aquando das ameaças relativas a tão polémica lei.
A verdade é que vivemos numa sociedade globalizada, em constante evolução, e assistimos simultaneamente (e diria mesmo de forma causal) a um novo paradigma no mercado de trabalho, caracterizado por maior flexibilização e, atrevo-me a dizer, mais justo e recompensador.
Parar é morrer; e renunciar à mudança ou querer manter-se em um emprego "estável para a vida" (como já não existe, nem nos bancos) equivale a facilitismo e a atitude de sedentarismo. É a palavra dos comodistas.
Como eu não quis fazer um texto muito grande, acabei por não explicar porque é que o CPE não é tão radicalmente liberal como se faz pensar.
Em primeiro lugar, só as empresas com mais de 20 assalariados podem fazer este tipo de contrato. Depois, o patrão é sempre obrigado a pagar uma indemnização. No caso de o jovem ter trabalhado quatro ou mais meses na empresa, o Estado ainda lhe paga 460 euros por mês durante 60 dias. A partir destes 60 dias, o jovem pode usufruir do subsidio de desemprego.
Ou seja, penso que há protecção social suficiente para se evitar situações de pobreza.
De facto.
Não é a questão da protecção social que me tranquiliza quando falamos nesta medida do governo francês. De facto, e apesar de concordar contigo pelo que dizes acerca da "nossa" geração, de uma onda de "novos velhos" que alastra pela Europa e da falta dinâmica e vontade aos jovens trabalhadores do momento, também penso que é preciso analisar a questão por outro lado. De facto, isto seria muito bom para "puxar" pelos "putos", mas no entanto é preciso ver que isto permite às empresas despedir como lhes apetece, evitando pagar melhores salários. O que penso que vai acontecer não é, como tu dizes, que ao fim de 2 anos os bons trabalhores vão ser recompensados. É bastante mais provável despedir ao fim desse tempo, injectando "sangue novo", com vontade de se mostrar e a receber salários mais baixos. Portanto, penso que esta medida potenciará uma situação parecida com a dos contratos a prazo.
Não acontecerá isso, se o desempenho do funcionário for francamente positivo. Para quê abdicar de mão-de-obra que é eficiente?
Chegamos a um ponto em que o funcionário é o dono da sua própria carreira, e gere-a de acordo com a sua vontade e responsabilidade.
Thinker,
Tu, como muita gente de esquerda, fala dos empresários como se fossem entidades direccionadas unicamente para prejudicar as outras pessoas, talvez por gozo. Mas os empresarios sao pessoas inteligentes que nao despedem outras pessoas só pelo gozo de empregar outra por salário mais baixo. Para um empresário, os salários baixos podem ter, e têm, vantagens, mas nao sao um fim em si. Ninguém vai despedir um empregado se ele for bom.
Há na sociedade portuguesa, talvez por herança de um catolicismo que condena o lucro, uma ideia de que os empresários sao uma representaçao do mal na terra; e que cá estao para praticar maldades. É um preconceito que tem de acabar.
Nota: eu nao sou empresário nem tenho qualquer familiar directo empresário.
Não. Não foi isso que quis dizer. Não é despedir por despedir, mas simplesmente evitar aumentar os custos. Sejamos realistas, grosso modo qualquer pessoa pode realizar um certo tipo de trabalho específico numa fábrica ou num escritório, por exemplo. Tirando cargos importantes, ou que exijam grande capacidade intelectual, não é difícil arranjar muita gente para executar essas tarefas, por isso a questão do "bom desempenho" é uma treta. Tal como disse, temos uma situação semelhante com os contratos a prazo.
Por outro lado, em empresas relativamente grandes, esta medida será óptima para manter bons trabalhadores apenas o tempo suficiente para não subirem de carreira (sim, porque quem está acima não quer ver o seu lugar ameaçado, e ao contrário do que possam dizer isto acontece na realidade).
No entanto, apesar de ter feito algumas críticas, penso já ter dito que, em parte, o CPE trará algumas coisas boas, quanto mais não seja permitirá agitar o mercado de trabalho.
Thinker:
Quem percebe minimamente de gestao sabe que nao se pode manter uma empresa nesse tipo de sistema de despedir os empregados passado 1 ano da sua contrataçao. As regras da gestao e do mercado encarregam-se de penalizar os empresários que sigam esse tipo de práticas.
Além disso, nao concordo que em certo tipo de trabalho, nao há distinçao entre bom e mau trabalhador. O bom empresario sabe ver se um empregado é bom ou nao em qualquer trabalho; obviamente, o trabalhador tem que se esforçar para o demonstrar, mesmo que nao goste do lugar que ocupa.
Esse argumento de as grandes empresas nao quererem que os funcionários subam na carreira é absurdo. Se o funcionario subiu na carreira, foi porque o empregador quis; e se este quis, é porque considera o funcionário bom; e se o considera bom, a última coisa que quererá é que ele abandone a empresa.
Como deve dar para reparar, fiz questao de dizer "bom empresário" muitas vezes, porque, claro, sei que nem todos os empresários sao bons. Mas como disse acima, o mercado tratará de tirar os maus do sistema, ou pelo menos, evitar que as suas empresas atinjam dimensoes que amplifiquem as suas más decisoes.
Para concluir, digo que todas as teorias de gestao modernas dao cada vez mais importância ao trabalhador-indivíduo na empresa. A sua motivaçao é elemento chave para a produtividade.
Esse argumento de as grandes empresas nao quererem que os funcionários subam na carreira é absurdo. Se o funcionario subiu na carreira, foi porque o empregador quis; e se este quis, é porque considera o funcionário bom; e se o considera bom, a última coisa que quererá é que ele abandone a empresa.
Quando referi este exemplo não estava a falar de despedimento, mas sim da pressão para que outros não subam. Isto acontece, de facto. Acontece com gente que eu conheço, por exemplo, que não sobe na carreira, não por falta de qualidade mas porque quem está "acima" não se quer sentir ameaçado.
Falaste muitas vezes em bons empresários. Mas quantos bons empresários há por aí?
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