Tuesday, April 18, 2006

Declaração de Bolonha

O ensino superior português está atrasado, quer na evolução do tempo, quer em termos qualitativos. Contra isso, e bem, as associações de estudantes e outros movimentos estudantis têm vindo a manifestar-se. Umas vezes exageradamente, outras, com os argumentos errados, mas, na generalidade com razão.
O surpreendente é que, agora que temos uma pressão da UE e uma vontade do Governo em elevar o ensino superior português aos padrões europeus, com inspiração no ensino norte-americano; agora, dizia eu, os estudantes reclamam contra a implementação do processo de Bolonha.
Eu sei que se argumenta, entre outras coisas, que: (1) sem aumento de meios financeiros, pouco melhora; (2) o processo tem vindo a ser anunciado de forma algo atabalhoada; (3) os estudantes não estão a ser informados do que se pretende fazer; (4) que o processo de transição é muito complexo e deixa adivinhar dificuldades; etc. Tudo isto é dito com razão. Mas é tão urgente uma reforma do nosso ensino superior que considero que qualquer passo na direcção do processo de Bolonha é sempre bom, ainda que não implementado na perfeição.
O nosso ensino superior está em tal estado que os estudantes não se podem dar ao luxo de gastar os seus esforços na crítica ao processo de Bolonha, ou melhor, à forma como ele tem vindo a ser introduzido. Os estudantes têm de dirigir os seus esforços, não para criticar o que está a ser feito, mas para exigir que seja feito mais. Depois de todos concordarmos em fazer mais, aí sim, se deverá exigir que se faça melhor.
Escrevo isto porque parece-me que os protestos dos estudantes nos últimos meses terão um efeito contra-producente. Em vez de forçar o Governo a melhorar o ensino, está-se a travar o caminho da direcção certa, está-se a contribuir para ainda mais estagnação.

4 Comments:

Blogger Eduardo Barroco de Melo said...

Concordo contigo. Mas tens de concordar que o processo de Bolonha, da maneira que está a ser tratado (ou seja, atabalhoadamente, usando as tuas palavras) irá nivelar a qualidade dos cursos por baixo e não a elevará. Servirá apenas para padronizar os cursos consoante o modelo europeu, mas com uma quebra de qualidade. Mas pelo menos tem-se feito alguma coisa e Portugal está no bom caminho.

April 19, 2006 12:30 AM  
Anonymous Anonymous said...

Eu sou delegado da minha turma lá na universidade e pelo que tenho ouvido parece-me que vai ser complicado o mercado de trabalho aceitar estudantes só com 3 anos de curso. Conclusão: vamos ser quase que obrigados a fazer mestrados :S...

Abraço!

April 23, 2006 9:00 PM  
Blogger Luís Araújo said...

Mário Lopes,

Depende do curso.
É inconcebível, por exemplo, que um estudante possa vir a ser advogado ou médico com apenas 3 anos de curso. Por isso a Ordem dos Advogados não aceitará inscrições de recém-licenciados com apenas o 1º ciclo. Mas isto não quer dizer que uma licenciatura só com 1º ciclo não sirva para nada. Eventualmente, poderá servir para se ser solicitador e há cada vez mais necessidade de licenciados em direito nas empresas, sem serem advogados. Cada um terá de decidir até que nível quer chegar. No fundo é o que acontece hoje; apenas se abre a possibilidade de se fazer uma licenciatura mais curta. Quem quer fazer o 2º ciclo (ou mestrado) não perde nada em relação ao que temos hoje. E quem se fica pelos 3 anos, não se pode queixar senão de não querer continuar; aliás, hoje, se sair ao 3º ano, sai como se tivesse só o 12º ano, pelo que a divisão do curso acaba por ser vantajosa.
Por outro lado, há profissões que podem perfeitamente ser exercidas com licenciatura de 3 anos. Nestes casos, o 2º ciclo equipara-se ao mestrado de hoje; não há qualquer diferença.
O que concluo é que esta questão da divisão da licenciatura em 2 ciclos é uma questão menor no assunto. A parte substancial da Declaração de Bolonha tem a ver com os métodos de ensino e avaliação. É a isso que me refiro quando digo que se quer elevar o ensino português aos padrões europeus e americanos. É isto que interessa e é disto que a discussão se desvia quando nos fixamos em questões que pouco mais são do que formais.

Abraço!

April 24, 2006 8:31 PM  
Blogger Eduardo Barroco de Melo said...

Concordo. Além disso, se tem funcionado no resto da Europa, não vejo porque é que o mercado de trabalho em Portugal não se adaptará.

April 25, 2006 10:03 AM  

Post a Comment

<< Home

Site Meter