Wednesday, February 01, 2006

Preocupação


No post Sem Surpresas, disse que a minha perspectiva quanto à evolução do plano internacional nos próximos anos não é boa.
Neste post vou falar da situação que mais me preocupa: o Irão.
Há uns meses houve eleições nesse país e ganhou Mahmoud Ahmadinejad. O facto de ele ser o candidato do fundamentalismo, por si só, deixou o mundo em alerta. Além disso, segundo se diz, ele nunca tinha saído do país e é cegamente devoto ao islamismo. Resta referir a sua bem conhecida demagogia.
Tudo isto seria problema estritamente interno do Irão e dos seus aliados, se a sua intenção para enriquecer urânio não fosse afirmada. É verdade que ele diz que pretende enriquecer urânio unicamente para fins civis, mas é bem sabido que a tecnologia que permite enriquecer urânio para fins civis não requer muitas alterações para o enriquecer para fins militares.
Ora, junte-se um líder com as características que eu descrevi, à tecnologia de enriquecimento de urânio e o resultado é bom de se ver. Todos os líderes mundiais já o viram. Os EUA já entraram em negociações; falharam. Os três grandes da Europa também já o fizeram; falharam. Resta a Rússia e a China. A Rússia não quer pressionar demasiado, mas já se pôs ao lado da Europa e EUA. A China, simplesmente, não demonstra qualquer interesse a não ser acalmar os ânimos do Ocidente.
Nestes dias decorre uma reunião de emergência da AIEA (Agência Internacional de Energia Atómica) que vai apreciar as violações do Irão às regras e, possivelmente, remeter a resolução do caso para o Conselho de Segurança da ONU. O Irão já avisou que se for pedida a intervenção do Conselho de Segurança, encerra a via diplomática e a sua posição vai endurecer.
Se o assunto for enviado para o Conselho de Segurança, só vamos saber a sua apreciação a partir do mês de Março, mas podemos desde já especular sobre as suas consequências.
Em primeiro lugar, e para variar, o preço do petróleo já começou a subir, depois de há uns meses parecer estabilizado. Se a situação se agravar, isto é, se as posições se extremarem, adivinha-se forte subida do preço. E todos sabemos as consequências que isto teria no tímido crescimento económico das economias ocidentais e especialmente das europeias, ainda a sair de uma crise.
Em segundo lugar, eu sei que pode parecer exagerado, prematuro ou alarmista, mas há já sinais de preparação para uma eventual invasão militar ao Irão. Aqueles que já negociaram com o Irão e falharam acreditam que só uma queda do regime político vigente no país pode inverter a situação. Mas é difícil fazer cair um regime quando a população está claramente do seu lado. O único meio de o fazer cair é, então, a invasão militar. Àqueles que acham esta possibilidade pouco plausível, nomeadamente por causa da recente experiência de contestação à guerra do Iraque, meus amigos, desenganem-se. A situação é completamente diferente. Por várias razões: (1) a Europa está do lado dos EUA (lembre-se a ameaça de Chirac de que poderia usar armas nucleares contra quem ameaçasse o território francês); (2) a possibilidade de haver armas de destruição massiva é real, não se baseia em desfocadas imagens de satélite acompanhadas de esquemas algo duvidosos; (3) fala-se de armas nucleares, não “apenas” biológicas ou químicas, o que tem um impacto mais assustador nas pessoas; (4) o Irão está a adoptar uma posição agressiva, tendo um discurso forte e intransigente perante os países que com ele negoceiam; (5) Ahmadinejad já disse que o holocausto é uma mentira e ameaçou claramente Israel; (6) se o objectivo é só impedir que eles atinjam determinado nível tecnológico, bastará uma intervenção aérea contra as instalações suspeitas, deixando de ser problema a pouca disponibilidade de efectivos americanos em virtude da guerra no Iraque. Resumindo, há mais, e mais fortes, razões para uma invasão militar e a legitimidade será maior, até porque os EUA aprenderam com o erro anterior e só seguirão para a invasão com autorização da ONU e apoio da Europa.

4 Comments:

Blogger Luís Araújo said...

Peço desculpa aos leitores por ter feito um post tão extenso, mas à medida que ia escrevendo iam surgindo ideias que não podia deixar de escrever. Só no fim me apercebi e não havia nada a fazer; qualquer frase a menos e o raciocínio deixa de fazer sentido.

February 01, 2006 7:37 PM  
Blogger Luis Oliveira said...

Os leitores não se importam... eles ainda são poucos. ^^

Este assunto é particularmente grave se tivermos em conta as repercussões na economia e na segurança física das populações. A democracia tem disto, infelizmente. Esperemos que dê tudo pela certa.

February 02, 2006 6:24 PM  
Blogger Joao A. Correia said...

Que dizer? Mais um barril de pólvora para a região e mais um quebra cabeças para Israel que agora se encontra em período de eleições.

Curioso notar que as tuas preocupações vão de encontro com as do Doutor Azeredo Lopes que falou na RTP N; o teu novo ídolo!lolol.

February 03, 2006 12:16 PM  
Blogger Luís Araújo said...

Folgo em saber que vão de encontro às preocupações dele. Mas, como sabes, não tenho TVcabo e, portanto, não me podem acusar de plágio. Inspirei-me sobretudo em notícias do Público, um comentário de José Cutileiro no Expresso, e no Bloguitica.

February 03, 2006 12:42 PM  

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